segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Carotenóides e Vit A nas Frutas Nativas do Cerrado


Frutas nativas do cerrado: qualidade nutricional e sabor
peculiar
Tânia Agostini-Costa e Roberto Fontes Vieira
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
O Cerrado destaca-se pela riqueza  de sua biodiversidade, que pode ser
interpretada pela vasta extensão territorial, pela posição geográfica privilegiada,
pela heterogeneidade vegetal, e por  ser cortado pelas três maiores bacias
hidrográficas da América do Sul. Os frutos das espécies nativas do cerrado
oferecem um elevado valor nutricional, além de atrativos sensoriais como, cor,
sabor e aroma peculiares e intensos, ainda pouco explorados comercialmente.
Algumas frutas nativas do cerrado, como o araticum, o buriti, a cagaita e o pequi,
apresentam teores de vitaminas do complexo B, tais como as vitaminas B1, B2 e
PP, equivalentes ou superiores aos encontrados em frutas como o abacate, a
banana e a  goiaba, tradicionalmente consideradas como boas fontes destas
vitaminas. Entretanto, grande parte das frutas nativas em regiões típicas de clima
tropical é, especialmente, rica em carotenóides.  Os  frutos  de  palmeiras,  como  o
buriti, o tucumã, o dendê, a macaúba e a pupunha são fontes potenciais de
carotenóides pró-vitamina A.
Aproximadamente 600 carotenóides são encontrados na natureza, constituindo o
maior grupo de corantes naturais, cuja  coloração pode variar entre o amarelo
claro, o alaranjado e o vermelho. Alguns podem ser convertidos em vitamina A;
outros estão associados à redução do risco de câncer e de outras doenças crônicodegenerativas, sem que estes sejam primeiro convertidos em vitamina A. Esta
última função tem sido atribuída ao potencial antioxidante dos carotenóides, que
são capazes de seqüestrar formas altamente reativas de oxigênio e desativar
radicais livres.
A Dra. Délia Rodriguez-Amaya, professora e pesquisadora da Unicamp, é
Foto: Tânia Agostini-Costa.
Araticum (Annona crassiflora Mart.)reconhecida internacionalmente pela avaliação dos alimentos brasileiros como
fontes de carotenóides. Segundo a autora, o buriti (Mauritia Vinifera) constitui
uma das principais fontes de pró-vitamina A encontradas na biodiversidade
brasileira (6.490 microgramas de retinol equivalente por 100g de polpa). O
elevado potencial pró-vitamínico deste fruto é resultado dos altos teores de betacaroteno, principal fonte pró-vitamina A encontrada no reino vegetal. Estudos
realizados pela Dra. Tânia da Silveira Agostini-Costa, pesquisadora da Embrapa,
em parceria com Dr. Daniel Barrera-Arellano, professor da Unicamp, reforçam o
potencial pró-vitamina A do buriti. Segundo trabalhos desenvolvidos por estes
pesquisadores, um grama de óleo de buriti apresentou 1.181 microgramas de
beta-caroteno, o que faz deste óleo uma das maiores fontes de pró-vitamina A
(18.339 microgramas de retinol equivalente por 100 g de óleo).
O buriti não apresenta um consumo regular em todas as regiões do Brasil; os
frutos são consumidos, principalmente na forma de sucos e doces caseiros, pela
população local de algumas áreas específicas das regiões Norte e Central. O
Professor José Guilherme Mariath e colaboradores da Universidade Federal da
Paraíba e do Instituto de Tecnologia de Pernambuco avaliaram o efeito da
suplementação alimentar com o doce de buriti sobre a manifestação clínica da
hipovitaminose A em regiões típicas do semi-árido. Os autores concluíram que a
suplementação alimentar de crianças com idade entre 4 e 12 anos com 12g de
doce de buriti por dia, durante 20 dias, foi suficiente para  recuperar quadros de
hipovitaminose A, com evidências clínicas de xeroftalmia, que é um sintoma clínico
da deficiência de vitamina A caracterizado pela perda da visão. Embora o valor
pró-vitamina A do doce de buriti não  tenha sido excessivamente elevado (134
microgramas de retinol equivalente), os excelentes resultados obtidos parecem
confirmar a influência positiva da composição lipídica do fruto (29%), que se
conservou no doce (6,5%), favorecendo um aumento da biodisponibilidade, ou
seja, um melhor aproveitamento dos carotenóides pró-vitamina A pelo organismo.
Além das palmeiras, outras frutas nativas do cerrado brasileiro, de consumo
regional bastante difundido, como o araticum e o pequi, também, são importantes
fontes de carotenóides. Frutos  de  araticum  ou marolo  (Annona crassiflora Mart.)
procedentes de populações nativas do sul de Minas Gerais apresentaram teores de
pró-vitamina A que variaram entre 70 e 105 retinol equivalente por 100g de polpa.
A geléia caseira de araticum, processada termicamente, conservou melhor os
teores de carotenóides, de vitamina C e o potencial pró-vitamina A do que o licor
caseiro que foi obtido por infusão alcoólica a frio. Vitaminas e antioxidantes são
altamente instáveis e susceptíveis a degradações durante o processamento póscolheita. A natureza do produto e as condições de processamento e estocagem
podem afetá-los, comprometendo a aparência, o aroma e o valor nutritivo do
alimento.
Os valores pró-vitamina A determinados no pequi (Caryocar brasiliensis)
procedentes dos estados do Piauí e do  Mato Grosso do Sul, respectivamente,
variam entre 54 e 494 microgramas de retinol equivalente por 100g de polpa. A
Dra. Maria Isabel Ramos e os seus colaboradores da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul avaliaram o efeito do cozimento convencional do pequi sobre o teor
de carotenóides pró-vitamínicos. A polpa fatiada de pequi foi cozida com arroz, deacordo com culinária regional. Embora o cozimento tenha comprometido 25% do
valor pró-vitamínico do fruto, ainda conservou 375 microgramas de retinol
equivalente por 100g de polpa cozida, contribuindo significativamente para o
enriquecimento da dieta.
O Ministério da Saúde do Brasil tem estimulado a implementação de programas de
educação alimentar para incentivar o consumo de alimentos ricos em vitamina A e
em outros nutrientes. Muitos destes  alimentos, como as frutas nativas,
apresentam custo acessível, mesmo para as populações mais carentes. O uso
sustentado destas fruteiras nativas pode ser uma excelente opção para melhorar a
saúde da população brasileira e para agregar valor aos recursos naturais
disponíveis no cerrado, melhorando a renda das pequenas comunidades rurais e
favorecendo a preservação das espécies nativas.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, S. P. & AGOSTINI-COSTA, T. S. Frutas Nativas do cerrado:
caracterização físico-química e fonte potencial de nutrientes. In: Cerrado:
ambiente e flora. Brasília: Embrapa Cerrados, Segunda edição revisada e
ampliada (no prelo).
MARIATH, J. G. R.; LIMA, M. C. C.; SANTOS, L. M. P. Vitamin A activity of buriti
(Mauritia vinifera Mart) and its effectiveness in the treatment and prevention of
xerophthalmia. American Journal of Clinical Nutrition, v. 49, n. 5, p. 849-853,
1989.
RAMOS, M. I. L.; UMAKI, M. C. S.; HIANE, P. A.; RAMOS-FILHO, M.M. Efeito do
cozimento convencional sobre os carotenóides pró-vitamínicos A da polpa do pequi
(Caryocar brasiliense Camb). Boletim CEPPA, v. 19, n.1, p.23-32, 2001.
RODRIGUEZ-AMAYA, D. B. Assessment of the provitamin A contents of foods – the
Brazilian experience. Journal of Food Composition and Analysis, v. 9, p.196-

domingo, 14 de outubro de 2012

Frutas do Cerrado...fonte Central do Cerrado



Artigos publicados em 'Frutos do Cerrado'

09.04.08

Pequi – Caryocar brasiliense Camb.

por admin

Nomes populares: pequi, piqui, grão-de-cavalo, amêndoa-de-espinho, piquiá-bravo, pequiá, pequiá-pedra, pequerim, suari e piquiá. Nome científico: Caryocar brasiliense Camb.

Pequizeiro jovem com frutos
O pequizeiro é uma planta típica do Cerrado, que consiste num bioma de grande variedade de sistemas ecológicos, tipos de solo, clima, relevo e altitude, e com uma vegetação caracterizada por coberturas rasteiras, arbustos, árvores esparsas e tortuosas, de casca grossa, folhas largas e raízes profundas, formando desde paisagens campestres a florestas.
flor_de_pequi.jpg
Com uma vida útil estimada de aproximadamente 50 anos, o pequizeiro atinge até 10 m de altura. Sua fase reprodutiva inicia-se a partir do oitavo ano, com floração ocorrendo normalmente entre os meses de setembro a novembro.
A frutificação acontece de outubro a fevereiro, produzindo frutos por 20 a 40 dias em média, com produção variável podendo chegar a 1000 frutos por pé.
Calendário de Frutificação
calendario-frutificação-pequi
O fruto do pequizeiro apresenta gosto inconfundível tendo seu nome ligado às suas características botânicas, e etimologicamente ligado à língua tupi: py = casca e qui = espinho (Simões, 2005).
Contém normalmente entre 1 a 4 caroços, cientificamente chamados de putâmens. No Norte de Minas Gerais já foram encontrados frutos contendo até 7 caroços.
O caroço é composto por um endocarpo lenhoso com inúmeros espinhos, contendo internamente a semente, ou castanha, e envolto por uma polpa de coloração amarela intensa, carnosa e com alto teor de óleo.
Pequis no péPequi com caroçosAnatomia de um caroço de pequi
Características Físicas do Pequi
Parâmetrosmédia
Peso por fruto (g)76,41
Peso de caroço por fruto (g)30,75
Peso de polpa por fruto (g)7,41
Peso das sementes por fruto (g)22,87
Diâmetro longitudinal (mm)32,17
Diâmetro equatorial (mm)41,16
Rendimento de polpa (%)8,98
Rendimento de caroço (%)28,81
Rendimento em casca (%)61,66
Características Químicas da polpa do Pequi
ParâmetrosQuantidade por porção de 100 g de polpa
Umidade (%)50,61
Proteinas (%)4,97
Gordura (%)21,76
Cinza (%)1,1
Fibra (%)12,61
Carboidratos (%)8,95
Calorias Kcal/100g251,47
Cálcio (mg/100g)0,1
Fósforo (mg/100g)0,1
Sódio (mg/100g)9,17
Vitamina C (mg/100g)103,15
Fonte:
Relatório Institucional – Núcleo de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais, Montes Claros, 2003.
Uma das maiores virtudes do Cerrado brasileiro é a diversidade biológica deste bioma, representado por uma série de espécies vegetais que produzem frutos utilizados na alimentação humana, podendo-se destacar o pequi. Espécies medicinais e outras plantas úteis vêm sendo largamente utilizadas no cotidiano da população local, constituindo uma reserva farmacológica, nutricional e utilitária de riqueza inigualável para os povos das regiões ocupadas pelo Cerrado (Simões, 2005).
Assim como numerosos e exuberantes estames em sua flor, múltiplos são as formas de uso e significado do pequi para esses povos.
Elemento de base da cultura alimentar de várias regiões brasileiras, o fruto do pequi, compõe receitas tradicionais, como o Arroz com Pequi, Galinhada, alguns doces, licores, sorvetes, caracterizando fortemente, junto a outras especiarias, o bouquet de sabores das culinárias regionais aonde ele se encontra.
Popularmente, seu uso fitoterápico é apontado em diversos tratamentos, pelo uso do seu óleo, flores e folhas.
Extrativismo
Ao associar a coleta do pequi a uma atividade produtiva em cadeia, com expansão do consumo além do uso próprio ou familiar, origina-se também um problema de desequilíbrio ecológico, principalmente relacionado ao ciclo de reprodução do pequizeiro e dos ecossistemas circunvizinhos à planta e à área de coleta.
O pequizeiro, gera seus frutos – e conseqüentemente suas sementes – em número suficiente e necessário para que suas características genéticas sejam prospectadas naturalmente em seu meio, e aonde mais essas sementes alcançarem.
A coleta indiscriminada dos frutos, sem controle da quantidade coletada, ou da forma como isso é feito, afeta diretamente a produtividade e a diversidade natural da população de pequizeiros presentes numa certa região, além de prejudicar a relação destas árvores com insetos, animais maiores, plantas, e outras formas de vida que com as quais elas interagem diretamente, causando um desequilíbrio ambiental em maior escala.
Algumas recomendações de boas práticas de coleta do pequi são:
  • Não derrubar o fruto da árvore, muito menos utilizar varas ou qualquer outro instrumento para isso;
  • Coletar somente os frutos caídos naturalmente. Estes, sim, estão no ponto de consumo;
  • Não devastar a cobertura vegetal debaixo e ao redor da planta; existem outros seres em convivência natural com ela, que dependem dessa cobertura;
  • Coletar frutos sadios, e deixar os frutos rachados ou abertos como reserva natural, para reprodução da planta e alimentação animal; se houver somente frutos sadios, deixe assim mesmo uma certa quantidade de reserva. A recompensa futura será muito maior;
  • Somente leve os frutos. Não deixe nada que não pertença ao ambiente, como sacos plásticos não utilizados e outros tipos de lixo.
USO E APROVEITAMENTO AGROINDUSTRIAL DO PEQUI
Não obstante os problemas causados pelo extrativismo descontrolado, o avanço da fronteira agrícola no Cerrado, sob a forma de expansão de grandes lavouras monoculturais, como a soja, e a instalação, sobretudo no cerrado mineiro e baiano, de fazendas de reflorestamento de eucalipto, têm sido, numa escala escandalosamente maior, as principais ameaças ao estoque natural do pequizeiro e a toda a biodiversidade do bioma, sua água, seu solo e os povos que dele sobrevivem.
O aproveitamento do pequi sob a forma de seu processamento agroindustrial tem aberto perspectivas cada vez mais amplas e promissoras de atividade e agregação de renda por parte de agricultores familiares e extrativistas em regiões distintas do cerrado brasileiro, num esforço contínuo de preservação ambiental associado ao uso racional dos recursos naturais, espelhando as lutas contra os efeitos degradantes citados anteriormente.
Organizados por meio de associações, cooperativas e microempresas, eles têm buscado, com o apoio de organizações civis e de governos, aprimorar estruturas de produção, tecnologias e processos de beneficiamento, com um perfil mais apropriado à sua escala de investimentos, disponibilidade de matéria-prima e outros recursos naturais, e com foco na sustentabilidade ambiental.
Dentre processos tradicionais e novas tecnologias e produtos que se encontram em desenvolvimento no país, a tabela a seguir apresenta alguns usos e aproveitamentos possíveis que se podem dar ao pequi:
aproveitamento_pequi
02.04.08

Baru – Dpyteryx alata Vog.

por admin

Nomes populares: Castanha de baru, cumbaru, cumaru, castanha de burro, viagra do cerrado, coco barata, coco feijão. Nome científico: Dipteryx alata Vog

Ocorrência
Ocorrre nas matas e cerrados do Brasil Central, envolvendo terras dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão e Distrito Federal.
Aspectos botânicos e ecológicos
barueiro
Leguminosa arbórea da família Fabaceae.
Árvore de grande porte chegando a medir 25 metros de altura, podendo atingir 70 cm de diâmetro com vida útil em torno de 60 anos.
O baru está ameaçado de extinção em função da procura pela madeira e pelo nível de desmatamento do Cerrado.
Ocorre corte indiscriminado do baru para fabricação de carvão vegetal, instalação de cercas (moirões), indústria moveleira, construção civil, entre outros usos.
O baru é encontrado em terras férteis e seus ecossistemas de ocorrência têm sido massivamente desmatado em função do avanço da fronteira agropecuária sobre o Cerrado.
Agroextrativista coletando baru
Crescimento rápido sendo importante para fixação de carbono da atmosfera.
Tem sua primeira frutificação com cerca de 6 anos, sendo este período bastante variado em função das condições de solo e água.
Possui safra intermitente com variações bruscas de intensidade de produção de frutos de um ano para o outro. Para efeitos práticos, relacionado a utilização comercial, produz uma safra boa a cada 2 anos.
Uma árvore adulta produz cerca de 150 kg de fruto por safra boa. Possui apenas uma semente por fruto, do qual pode se aproveitar a polpa, endocarpo e semente (amêndoa).
O tamanho do fruto varia muito de região por região, bem como em função das condições de solo, água e genética da planta. Em média o fruto pesa 25g, sendo 30% polpa, 65% endocarpo lenhoso e 5% semente.
Despolpa do Baru
A polpa do baru constitui importante fonte de alimento para a fauna nativa (pequenos mamíferos, roedores, pássaros, morcego, etc) e para o gado que se alimentam roendo a polpa da fruta na época da safra.
A época da floração e frutificação varia de acordo com a região, sendo que a colheita geralmente é feita após o pico de queda dos frutos maduros.
Calendário de Frutificação
calendario_frutificacao
Galeria de Imagens do Baru
Flor do BaruFrutos do BaruJóias confeccionadas com o Baru
castanha de Baru do CenescBaru quebrado com amêndoa
Aplicações do baru
  • Alimentação humana
  • Alimentação animal
  • Medicina
  • Indústria cosmética
  • Artesanato
  • Combustível
  • Indústria madereira/moveleira
  • Construção civil/rural
  • Adubação natural (leguminosa)
  • Moirão vivo
Produtos e subprodutos do baru e respectivos uso
Parte do frutoProduto/sub-produtoUsos
PolpaPolpa in naturaAlimentação animal
Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Polpa desidratadaAlimentação animal
Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
FarinhaAlimentação humana
Álcool/CachaçaConsumo humano
Medicinal/farmacêutico
Cosmético
Industrial
ResíduosAgrícola (adubo orgânico)
AmêndoaAmêndoa cruaAlimentação animal
Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Agrícola (produção mudas)
Amêndoa torrada
Alimentação humana
FarinhaAlimentação humana
LeiteAlimentação humana
ÓleoAlimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Cosmético
Industrial
Torta
Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Cosmético
Industrial
Pasta/manteigaAlimentação humana
Endocarpo lenhosoCarvãoCombustível
Ácido Pirolenhoso e alcatrãoIndustrial
Endocarpo lenhosoArtesanato
Qualidade nutricional da amêndoa
Informações Nutricionais
Componenteg /100g
Proteína23,9
Gorduras totais38,2
Gorduras saturadas7,18
Gorduras insaturadas31,02
Fibras totais13,4
Carboidratos15,8
Tabela de Minerais
Mineraismg/100g
Cálcio140
Potássio827
Fósforo358
Magnésio178
Cobre1,45
Ferro4,24
Manganês4,9
Zinco4,1
Calorias 502 kcal/100g
Fonte:
Takemoto, E. et al. Composição química da semente e do óleo de baru (Dipteryx alata Vog.) nativo do Município de Pirenópolis, Estado de Goiás. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 60(2):113-117, 2001.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

De pinhões e Araucárias...tanta riqueza na natuREZA


PINHÃO, FRUTO SOBERANO
Nos campos do planalto Sul, ela é soberana. Nada chama mais a atenção do que a araucária com sua altura de até 50 metros e grande copa em forma de taça.
Árvore de longa vida e muitos nomes, a Araucaria angustifolia fornece madeira de excelente qualidade, mas também se tornou famosa pelo pinhão, semente produzida com fartura a cada dois anos. Esse mesmo pinhão que garante a alimentação de muitas espécies animais, principalmente roedores e pássaros, se tornou item obrigatório no cardápio de outono e inverno em milhares de residências do Sul.
O apetite humano por esse fruto pode, inclusive, funcionar como o principal aval para a perpetuação da araucária, que, derrubada sem piedade para a extração de madeira, já esteve ameaçada de extinção. Caso lamentável é o de São Carlos do Pinhal, interior do Estado de São Paulo… Não que, de repente, as pessoas tenham sido contaminadas por um surto preservacionista. A motivação é puramente econômica. “Para o serrano, o pinheiro hoje está valendo mais de pé, produzindo pinhas, do que cortado, vendido como madeira”, explica o fazendeiro catarinense Laélio Bianchini, em cuja propriedade, em Lages, existem 15 mil araucárias. “Muitas famílias tiram o sustento da venda do pinhão e até grandes proprietários conseguem bom capital de giro com seu comércio, já que se trata de iguaria cada vez mais procurada aqui no Estado”, acrescenta.
No início de junho, a Fundação de Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) baixaram portaria autorizando o manejo florestal no Estado, incluindo espécies nativas, entre elas a araucária, que em terras catarinenses tinha o corte proibido desde 1992. Mas a procura pela pinha, aliada às dificuldades para colocar madeiras de lei no mercado internacional e sua baixa cotação no mercado nacional, pode tornar o plano de manejo inútil para o pinheiro brasileiro. “Ele já cobriu grande parte do território catarinense e por isso sofreu a maior pressão de corte”, revela Márcia Batista, técnica em controle ambiental da Fatma. Do final da 2ª Guerra Mundial até a década de 60, a prosperidade dos fazendeiros do Sul e centro do Planalto Catarinense era medida em pinheiros. Durante o Ciclo do Pinheiro, como ficou conhecida esta época em Santa Catarina, Lages, no Planalto Sul, tinha tanta araucária, que se tornou a cidade mais rica do Estado. Até o pagamento dos funcionários públicos só era possível quando o município remetia sua parte na arrecadação estadual para a capital. No Meio-Oeste, onde os pinheirais também eram abundantes, a extração igualmente movimentou e gerou fortunas. O mapa de cobertura vegetal elaborado recentemente pela Fatma mostra uma realidade muito diferente: a floresta ombrófila (úmida) mista, onde está incluída a espécie, cobre apenas 13,8% dos 95 mil quilômetros quadrados do território catarinense. Esgotada sua exploração, as áreas em que as araucárias dominavam estão cobertas por espécies exóticas, principalmente pelos Pinus elliottii e Pinus taeda, para a produção de celulose. Em outras, sequer houve reposição da cobertura original, predominando os campos limpos. Mas quem manteve áreas de preservação está lucrando com a venda do pinhão.
Colhido em três épocas do ano, o consumo desta semente no Planalto Catarinense é tão tradicional que gerou inclusive um dos principais eventos culturais do Estado – a Festa do Pinhão, em Lages, que numa semana, no início de junho último, teve 315 mil visitantes e consumo ou comercialização de 25 toneladas do produto. “Descobrimos e estimulamos um grande mercado consumidor de pinhão, com muitas variações gastronômicas”, afirma Flávio Agustini, diretor da Serratur, órgão de turismo da prefeitura de Lages. Nas rodovias da região, centenas de barraquinhas vendem o produto, cru ou cozido, entre fevereiro e agosto. “É a época que mais reforço meu sustento, porque o pessoal quer comprar pinhão e acaba levando também feijão, queijo e outros produtos que vendo”, diz Eleonora Santos, que tem uma barraca de lona na BR 282, próximo à entrada de Lages. Os frutos que vende vêm de seus 140 hectares, “com uns 500 pinheiros”, além do que é colhido nas propriedades vizinhas. Apesar de sua importância regional como fonte de renda, o pinhão não mereceu estudos de impacto econômico ou social e grande parte de sua comercialização ainda é clandestina, sem emissão de notas fiscais e transportada à noite, evitando as fiscalizações”.
DE GALHO EM GALHO
“Há 20 anos, de março a julho, Adelmo Miguel, o Juruna, tem uma obrigação : escalar árvores entre 10 e 35 metros de altura, pisar em galhos de resistência duvidosa e, com longas varas, derrubar as frutas das pontas desses galhos. Natural de Urupema, SC, ele colhe pinhas desde os 6 anos, habilidade herdada do pai, que chegou a ficar dois anos em cadeira de rodas, recuperando-se de uma queda do topo de uma araucária de 20 metros. “Um pinheiro bom rende 300 pinhas, que dão cerca de cinco sacas de 50 quilos de pinhão”, explica. Ele recolhe as pinhas jogadas em torno da árvore, carrega as broacas (bolsas de couro penduradas numa mula) e segue atrás de outras araucárias apinhadas. Juruna testemunhou muitas vezes o apetite dos animais pelo pinhão. “O ouriço, por exemplo, sobe até a grinfa (copa) da árvores e rói a pinha, sem derrubá-la”, conta. “Há 30 anos, os bandos de papagaios que migravam para o planalto na época de pinhas chegavam a escurecer o céu”, lembra o fazendeiro Bianchini. A lista de animais, entretanto, é muito grande, começando com o veado branco, passando pelas capivaras, pacas, macacos, preás, esquilos, perdizes e cutias, além de papagaios e gralhas.
E são as cutias, e não a gralha-azul, ao contrário do que diz o folclore, as principais responsáveis pela disseminação de pinheiros. “A cutia é grande apreciadora de pinhão e comumente enterra-o, para comê-lo depois. Dessa prática nascem milhares de novas araucárias”, explica Paulo Ernani Carvalho, engenheiro florestal da Embrapa de Colombo, PR. Os macacos justificam, inclusive, o nome das últimas pinhas que amadurecem, entre o fim de julho e meados de agosto. Como não debulham e nem caem das árvores, só estes animais conseguem chegar até elas. Por isso, seu fruto é chamado pinhão de macaco. Os animais domésticos também foram sustentados com a semente de pinha. “Antes das granjas de suínos, os porcos viviam soltos para engordar à base do pinhão”, lembra Bianchini. Também os bovinos alimentam-se de pinhões caídos sob os pinheiros”.
A PIONEIRA SOBREVIVEU
“Presente no planeta desde a última glaciação – que começou há mais de um milhão e quinhentos mil anos, a araucária, segundo o engenheiro florestal Paulo Carvalho, da Embrapa de Colombo, PR, já ocupou área equivalente a 200 mil quilômetros quadrados no Brasil, predominando nos territórios do Paraná (80.000 km²), Santa Catarina (62.000 km²) e Rio Grande do Sul (50.000 km²), com manchas esparsas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, que juntas, não ultrapassam 4% da área originalmente ocupada pela Araucaria angustifolia no país. É uma espécie resistente, tolerando incêndios rasos, devido à casca grossa, que faz papel de isolante térmico. A capacidade de germinação é alta e chega a 90% em pinhões recém-colhidos. Espécie pioneira, dissemina-se facilmente em campo aberto.
Apesar do desmatamento, o que motivou a proibição do corte em Santa Catarina, a araucária não corre mais o risco de extinção. “O corte persistia clandestino e sem garantias de recomposição da floresta. Com o plantio de manejo sustentável, garante-se a biodiversidade e a renda das propriedades”, resume o superintendente da Fundação de Meio Ambiente de Santa Catarina, Vladimir Ortiz.
O corte, entretanto, não é estimulante. Apesar da vocação para a fabricação de móveis, o preço pago pelas serrarias não justifica a derrubada. “No mato, não vai além de 50 reais pela dúzia de tábuas, ou 100 reais entregues nas serrarias”, compara o fazendeiro Laélio Bianchini. Já o pinhão, no atacado, custa 1 real o quilo e, uma só árvore produz, em média, 250 quilos. “Além disso”, reforça Bianchini, “a madeira é negociada uma só vez, enquanto que com o pinhão a renda perpetua-se”.
O plano de manejo liberado em Santa Catarina, que também inclui imbuia, palmito e canela, é similar ao do Paraná, onde o corte nunca foi proibido. Pela portaria, é liberada a derrubada de até 40% das árvores com mais de 40 centímetros de diâmetro. “Muitos fazendeiros arrancavam os exemplares ainda pequenos, pois sabiam que não poderiam cortá-los quando crescidos e preferiam deixar o campo limpo”, explica André Boclin, engenheiro florestal do Ibama catarinense. “O manejo é necessário, pois a própria natureza equilibra o número de indivíduos por espécie. No caso da araucária, a variação vai de 5 a 25 exemplares por hectare”, observa Paulo Ernani Carvalho”.