segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Carotenóides e Vit A nas Frutas Nativas do Cerrado


Frutas nativas do cerrado: qualidade nutricional e sabor
peculiar
Tânia Agostini-Costa e Roberto Fontes Vieira
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
O Cerrado destaca-se pela riqueza  de sua biodiversidade, que pode ser
interpretada pela vasta extensão territorial, pela posição geográfica privilegiada,
pela heterogeneidade vegetal, e por  ser cortado pelas três maiores bacias
hidrográficas da América do Sul. Os frutos das espécies nativas do cerrado
oferecem um elevado valor nutricional, além de atrativos sensoriais como, cor,
sabor e aroma peculiares e intensos, ainda pouco explorados comercialmente.
Algumas frutas nativas do cerrado, como o araticum, o buriti, a cagaita e o pequi,
apresentam teores de vitaminas do complexo B, tais como as vitaminas B1, B2 e
PP, equivalentes ou superiores aos encontrados em frutas como o abacate, a
banana e a  goiaba, tradicionalmente consideradas como boas fontes destas
vitaminas. Entretanto, grande parte das frutas nativas em regiões típicas de clima
tropical é, especialmente, rica em carotenóides.  Os  frutos  de  palmeiras,  como  o
buriti, o tucumã, o dendê, a macaúba e a pupunha são fontes potenciais de
carotenóides pró-vitamina A.
Aproximadamente 600 carotenóides são encontrados na natureza, constituindo o
maior grupo de corantes naturais, cuja  coloração pode variar entre o amarelo
claro, o alaranjado e o vermelho. Alguns podem ser convertidos em vitamina A;
outros estão associados à redução do risco de câncer e de outras doenças crônicodegenerativas, sem que estes sejam primeiro convertidos em vitamina A. Esta
última função tem sido atribuída ao potencial antioxidante dos carotenóides, que
são capazes de seqüestrar formas altamente reativas de oxigênio e desativar
radicais livres.
A Dra. Délia Rodriguez-Amaya, professora e pesquisadora da Unicamp, é
Foto: Tânia Agostini-Costa.
Araticum (Annona crassiflora Mart.)reconhecida internacionalmente pela avaliação dos alimentos brasileiros como
fontes de carotenóides. Segundo a autora, o buriti (Mauritia Vinifera) constitui
uma das principais fontes de pró-vitamina A encontradas na biodiversidade
brasileira (6.490 microgramas de retinol equivalente por 100g de polpa). O
elevado potencial pró-vitamínico deste fruto é resultado dos altos teores de betacaroteno, principal fonte pró-vitamina A encontrada no reino vegetal. Estudos
realizados pela Dra. Tânia da Silveira Agostini-Costa, pesquisadora da Embrapa,
em parceria com Dr. Daniel Barrera-Arellano, professor da Unicamp, reforçam o
potencial pró-vitamina A do buriti. Segundo trabalhos desenvolvidos por estes
pesquisadores, um grama de óleo de buriti apresentou 1.181 microgramas de
beta-caroteno, o que faz deste óleo uma das maiores fontes de pró-vitamina A
(18.339 microgramas de retinol equivalente por 100 g de óleo).
O buriti não apresenta um consumo regular em todas as regiões do Brasil; os
frutos são consumidos, principalmente na forma de sucos e doces caseiros, pela
população local de algumas áreas específicas das regiões Norte e Central. O
Professor José Guilherme Mariath e colaboradores da Universidade Federal da
Paraíba e do Instituto de Tecnologia de Pernambuco avaliaram o efeito da
suplementação alimentar com o doce de buriti sobre a manifestação clínica da
hipovitaminose A em regiões típicas do semi-árido. Os autores concluíram que a
suplementação alimentar de crianças com idade entre 4 e 12 anos com 12g de
doce de buriti por dia, durante 20 dias, foi suficiente para  recuperar quadros de
hipovitaminose A, com evidências clínicas de xeroftalmia, que é um sintoma clínico
da deficiência de vitamina A caracterizado pela perda da visão. Embora o valor
pró-vitamina A do doce de buriti não  tenha sido excessivamente elevado (134
microgramas de retinol equivalente), os excelentes resultados obtidos parecem
confirmar a influência positiva da composição lipídica do fruto (29%), que se
conservou no doce (6,5%), favorecendo um aumento da biodisponibilidade, ou
seja, um melhor aproveitamento dos carotenóides pró-vitamina A pelo organismo.
Além das palmeiras, outras frutas nativas do cerrado brasileiro, de consumo
regional bastante difundido, como o araticum e o pequi, também, são importantes
fontes de carotenóides. Frutos  de  araticum  ou marolo  (Annona crassiflora Mart.)
procedentes de populações nativas do sul de Minas Gerais apresentaram teores de
pró-vitamina A que variaram entre 70 e 105 retinol equivalente por 100g de polpa.
A geléia caseira de araticum, processada termicamente, conservou melhor os
teores de carotenóides, de vitamina C e o potencial pró-vitamina A do que o licor
caseiro que foi obtido por infusão alcoólica a frio. Vitaminas e antioxidantes são
altamente instáveis e susceptíveis a degradações durante o processamento póscolheita. A natureza do produto e as condições de processamento e estocagem
podem afetá-los, comprometendo a aparência, o aroma e o valor nutritivo do
alimento.
Os valores pró-vitamina A determinados no pequi (Caryocar brasiliensis)
procedentes dos estados do Piauí e do  Mato Grosso do Sul, respectivamente,
variam entre 54 e 494 microgramas de retinol equivalente por 100g de polpa. A
Dra. Maria Isabel Ramos e os seus colaboradores da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul avaliaram o efeito do cozimento convencional do pequi sobre o teor
de carotenóides pró-vitamínicos. A polpa fatiada de pequi foi cozida com arroz, deacordo com culinária regional. Embora o cozimento tenha comprometido 25% do
valor pró-vitamínico do fruto, ainda conservou 375 microgramas de retinol
equivalente por 100g de polpa cozida, contribuindo significativamente para o
enriquecimento da dieta.
O Ministério da Saúde do Brasil tem estimulado a implementação de programas de
educação alimentar para incentivar o consumo de alimentos ricos em vitamina A e
em outros nutrientes. Muitos destes  alimentos, como as frutas nativas,
apresentam custo acessível, mesmo para as populações mais carentes. O uso
sustentado destas fruteiras nativas pode ser uma excelente opção para melhorar a
saúde da população brasileira e para agregar valor aos recursos naturais
disponíveis no cerrado, melhorando a renda das pequenas comunidades rurais e
favorecendo a preservação das espécies nativas.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, S. P. & AGOSTINI-COSTA, T. S. Frutas Nativas do cerrado:
caracterização físico-química e fonte potencial de nutrientes. In: Cerrado:
ambiente e flora. Brasília: Embrapa Cerrados, Segunda edição revisada e
ampliada (no prelo).
MARIATH, J. G. R.; LIMA, M. C. C.; SANTOS, L. M. P. Vitamin A activity of buriti
(Mauritia vinifera Mart) and its effectiveness in the treatment and prevention of
xerophthalmia. American Journal of Clinical Nutrition, v. 49, n. 5, p. 849-853,
1989.
RAMOS, M. I. L.; UMAKI, M. C. S.; HIANE, P. A.; RAMOS-FILHO, M.M. Efeito do
cozimento convencional sobre os carotenóides pró-vitamínicos A da polpa do pequi
(Caryocar brasiliense Camb). Boletim CEPPA, v. 19, n.1, p.23-32, 2001.
RODRIGUEZ-AMAYA, D. B. Assessment of the provitamin A contents of foods – the
Brazilian experience. Journal of Food Composition and Analysis, v. 9, p.196-

Nenhum comentário:

Postar um comentário