Esta foto é para mostrar lindas florzinhas que nascem no Cerrado, numa escola que abriga crianças abandonadas e onde se pratica a manutenção do Cerrado - sem SOJA
A Soja é um feijão que foi sempre utilizado pelo Oriente.
Com a Revolução Verde vem para o Ocidente como alimento para ANIMAIS, além de óleo de soja e alguns vários derivados.
A monocultura de soja dilapida o solo, DES MATA, polui as águas pois produzidas com altas cargas tóxicas.
Nesse binômio SOJA-GADO acabamos envolvidos numa engrenagem terrível.
E que gera um Código Florestal perverso com a manutenção da beleza e urgente necessidade de manutenção das FLORESTAS nacionais....
Vão aqui informes do blog da Carol Daemon:
Hamburguer de soja, sucos do tipo Ades, sojinhas torradas e sua centena de sub-produtos, como maionese, "danoninhos veganos" e afins. E até TOFU feito com soja "convencional"!!!!
Observe que os orientais, que consomem e produzem soja há 5.000 anos, só o fazem em produtos fermentados, como tempê, shoyu, missô e tofu. Leite e carne de soja, assim como todos os derivados industriais, são equívocos por centenas de aspectos. Para mais informações sobre a toxidade da soja, veja oblog de Sonia Hirsche seusite oficial com especial apenas sobre a soja. A boa alimentação passa longe de produtos industrializados e está totalmente baseada em legumes, verduras, frutas e grãos integrais de cultivo orgânico.
Mais alguns elementos à discussão que elevou a soja à condição de panacéia:
1. Toda bebida pronta é crime de hidropirataria, pois consome 5lts de água para cada litro de bebida engarrafada. Veja emFlow, por amor à água como uma indústria de bebidas desertificou seu entorno e emHidropirataria em São Lourençocomo a plantação de soja "bebe": "Que dizer ante o fato da produção de um quilo de soja exigir 100 litros d’água. Assim, um caminhão cheio de soja arrasta, atrás de si, 100 caminhões de água. Hidropirataria. Além da água para a planta, há desmatamento, com destruição do cerrado, alterações dos lençóis freáticos, contaminação com herbicidas à base de fósforo que provocam alterações no ciclo biológico dos rios."
3. O forro do tetrapack em plástico é tóxico, especialmente em contato com líquidos e já foi até banido em países desenvolvidos, veja melhor como oBisfenol-A está sendo banido.
6. Soja in natura é tóxica e jamais deveria ser consumida sem ser da forma tradicional, fermentada, como fazem os orientais com shoyu, missô, tempê e tofu (se fervido por meia hr). A primeira semente de soja foi trazida ao Brasil por Pagu, encantada com a revolução chinesa há menos de 100 anos. Os orientais consomem soja há 5.000 anos, sabem do que estão falando. E não cultivam metade das hortaliças que nós produzimos, por falta de solo e condições climáticas. Leia sobreas hortaliças em extinção pelas tentações (industrializadas) da cidade grande.
Para você que co soja, toma sucos do tipo Ades e ainda belisca sojinhas torradas e sua centena de sub-produtos, como maionese, "danoninhos veganos" e afins. Observe que os orientais, que consomem e produzem soja há 5.000 anos, só o fazem em produtos fermentados, como tempê, shoyu, missô e tofu. Leite e carne de soja, assim como todos os derivados industriais, são equívocos por centenas de aspectos. A boa alimentação passa longe de produtos industrializados e está totalmente baseada em legumes, verduras, frutas e grãos integrais de cultivo orgânico.
6. Soja in natura é tóxica e jamais deveria ser consumida sem ser da forma tradicional, fermentada, como fazem os orientais com shoyu, missô, tempê e tofu (se fervido por meia hr). A primeira semente de soja foi trazida ao Brasil por Pagu, encantada com a revolução chinesa há menos de 100 anos. Os orientais consomem soja há 5.000 anos, sabem do que estão falando. E não cultivam metade das
São Jorge é um povoado de Alto Paraíso de Goiás, onde se localiza o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, berço de águas cristalinas, um dos lugares deslumbrantes que poderá ser afetado por um Código Florestal INCONSCIENTE, anti-ecológico e anti BRASIL!!!!!
A Escola Municipal Povoado de São Jorge tem uma hortinha, onde plantaremos esta árvore, recebida em doação e em resposta a um movimento por sementes e mudas para as hortas escolares locais.
E que a LUZ da consciência se faça, em dia tão importante!
claudinhaV
STERCULIA CHICHA
NOME POPULAR: amêndoa do cerrado, castanha de macaco, chichá, mandoví.
MALVACEAE (antigamente stherculiaceae)
NOME INDIGENA: Xixávem do Tupi e significa “Fruto semelhante a mão ou punho fechado”, aludindo a forma das cápsulas individuais.
Origem: Floresta atlântica, principalmente no Estado de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro, Brasil.
Características: arvore de porte grande, crescendo de 8 a25 metros de altura com tronco castanho-amarelado de30 a60 cm de diâmetro. A copa é arredondada quando a planta esta isolada, podendo alcançar o chão. As folhas são grandes, trilobalas (com três recortes ou pontas), caducas (que caem no inverno) e tomentosas (cobertas de pelos) na face inferior. As flores nascem agrupadas em panículas cônicas terminais.
Plantado no Sitio Frutas Raras em: novembro de 2.001, floresceu em 2.007, ainda não frutificou.
Dicas para cultivo: Arvore de crescimento rápido que resiste a baixas temperaturas (até -4 graus), vegeta bem em qualquer altitude. O solo pode ser profundo, úmido, neutro, com constituição arenosa ou argilosa (solo vermelho) e até pedregoso. A arvore é pioneira e ótima para ser usada em reflorestamento.
Mudas: As sementes são cilíndricas e arredondadas, com uma pele preta que se desprende a medida que vai secando. Germinam em 30 a 40 dias se forem plantadas imediatamente após colhidas, as mudas crescem rápido tanto no sol como na sombra e iniciam frutificação com 6 a 7 anos.
Plantando: Pode ser plantada a pleno sol como em bosques como em reflorestamentos de preservação permanente. Espaçamento 8 x 8 m. Adicione a cova 25% de areia e1 kg de cinzas e 8 litros de matéria orgânica. Irrigar a cada quinze dias nos primeiros 3 meses, depois somente se faltar água na época da florada.
Cultivando: Fazer apenas podas de formação da copa e eliminar os galhos que nascerem na base do tronco. Adubar com composto orgânico, pode ser (6litros) cama de frango + 50 gr de N-P-K 10-10-10 dobrando essa quantia a cada ano até o 3ª ano, depois adube a cada 2 anos, pois as raízes grossas e profundas dessa arvore armazenam água e nutrientes.
Usos: os frutos são avermelhados quando maduros, são semelhante a um trevo com 4 ou 5 cápsula, cada uma contendo de 5 a 8 sementes, que tem uma amêndoa saborosa, consumida in natura ou torrada.
Floração no sitio Frutas Raras: março a maio.
Frutificação no sitio Frutas Raras: agosto a novembro.
Vegetarianismo na educação escolar: nova diretriz para tempo de paz
Williamary Portugal
RESUMO
Este artigo é uma reflexão sobre a introdução da alimentação vegetariana na educação escolar de forma interdisciplinar e contextualizada como mediadora na formação de agentes multiplicadores de um processo de transformação do saber diante de uma re-visão das práticas pedagógicas atuais, tendo em vista um pensamento integral e contextualizado da realidade. A partir de idéias já discutidas por alguns teóricos como Fritjof Capra, Enrique Leff, Edgard Morin, Peter Singer, Rudolf Steiner, dentre outros, por onde se entrelaçam e se complementam as teorias do pensamento sistêmico, da complexidade, da racionalidade ambiental, da ética e da antroposofia, esse trabalho questiona o uso de animais na alimentação analisando suas causas e conseqüências para o meio ambiente e para a vida como um todo de acordo com os aspectos ético, espiritual, psicológico, filosófico, social, econômico e ambiental. E por meio da educação ambiental, fundamentada com obras de Isabel Cristina de Moura Carvalho, Genebaldo Freire Dias, dentre outros expõe sobre a experiência positiva a ser proporcionada pela alimentação vegetariana como facilitadora na semeadura dos importantes valores e de novas paisagens no ambiente escolar.
Palavras-chave: vegetarianismo, educação ambiental, cultura de paz.
1 INTRODUÇÃO
Já é tempo de encontrarmos novos caminhos
que nos levem ao verdadeiro desenvolvimento humano.
Novos caminhos para alimentar a população,
para alimentar a alma. E para criar riquezas, de modo
que o desenvolvimento científico e tecnológico continue,
mas, sustentavelmente. De modo que se sustente o respeito,
a responsabilidade, o amor a vida, o amor a si mesmo.
Já é tempo de trocar as nossas lentes e de ver novas paisagens.
Utopia – Williamary Portugal
Um lamentável preconceito, advindo de uma estreita visão que acredita que a evolução “é uma escada única, com os seres humanos no topo” (GOUD apud SCHÖPKE, 2005, p. 28), ainda prevalece e auxilia para a promoção de atrocidades constantemente cometidas pela nossa espécie, contra si mesma e contra os demais seres vivos.
De acordo com Shöpke (2005, p. 28):
O especismo – que na verdade é uma extensão de nossos preconceitos (o racismo, o sexismo etc) para o resto da Natureza – nos leva a outra questão: se existirem no Universo seres mais inteligentes que o homem, isso lhes dará um direito “natural” de nos aprisionar, escravizar e matar, conforme seus interesses?
Ainda segundo a autora, não se trata apenas de uma questão de “direito”, mas da tirania e do descaso com a vida de um modo geral, que desencadeia de um pensamento unilateral, fragmentado, que nega o que está organicamente integrado, articulado e que gera um processo de sinergia negativa, um círculo vicioso de degradação da vida que o conhecimento não compreende nem contém. Pois,
a crise ambiental é, sobretudo, um problema de conhecimento, que leva a repensar o mundo complexo, a entender suas vias de complexização (a diferença e o entrelaçamento entre complexização do ser e pensamento), para, a partir dali, abrir novas vias do saber no sentido da reconstrução e da reapropriação do mundo (LEFF, 2004, p. 69)
por sujeitos críticos, éticos e com atitudes de respeito com a vida, junto a um processo de sensibilização ambiental e de ressignificação da natureza por meio da construção de novos valores, saberes e paradigmas culturais que questionam a postura histórica onipotente e controladora do ser humano.
Daí a urgência de princípios educacionais capazes de auxiliarem a uma reflexão mais profunda diante de nossas ações sobre nós mesmos e sobre todos os outros seres, além de conduzirem a uma transformação e construção dos novos conhecimentos com complexidade, que se
gesta por meio da transformação de um conjunto de paradigmas do conhecimento e de formação ideológica, a partir de uma problemática social que os questiona e os ultrapassa. (id, 2002, p. 164)
Um dos paradigmas a ser questionado, repensado e transformado é o do uso de animais como refeição, que envolve reflexões sobre os aspectos ético, espiritual, psicológico, filosófico, social, econômico e ambiental, proporcionadas por esta pesquisa.
Ao refletirmos sobre a ética do uso de carne animal para a alimentação humana nas sociedades industrializadas, estamos examinando uma situação na qual um interesse humano relativamente menor deve ser confrontado com as vidas e o bem-estar dos animais envolvidos. O princípio da igual consideração de interesses não permite que os interesses maiores sejam sacrificados em função dos interesses menores. (SINGER, 2002, p. 73)
Portanto, para estimular uma nova organização cultural com a emergência de compreender a vida em toda a sua plenitude por meio de valores inerentes a um sujeito capaz de ler o ambiente, interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes para transformá-los, nada melhor que a própria educação/educação ambiental, neste caso, na instituição escolar, de modo interdisciplinar e contextualizado para a mediação e multiplicação desse processo de transformação do conhecimento e construção de um mundo de paz.
Assim surgiu a ideia dessa pesquisa, com a finalidade de refletir sobre uma nova política na educação, conduzida por uma necessidade pessoal com o intuito de reunir as fundamentações sobre uma postura ética para com a vida a qual tenho tido há mais de 10 anos e que tem sido um dos temas que envolvem meus estudos e pesquisas: o vegetarianismo.
Mesmo acreditando que o processo educativo não se inicia e nem se finaliza na escola, escolhi refletir sobre alguns aspectos que envolvem esse tema na educação escolar vendo-a como uma fonte multiplicadora dessa nova proposta de “alimentação” e consequentemente do que vem atrelado a ela por meio de uma re-visão das práticas pedagógicas atuais, tendo em vista um pensamento integral e contextualizado da realidade, já que o conceito de alimentação está intrinsecamente relacionado à nutrição: nutrição de valores, de novos conceitos e sentidos.
Essa pesquisa, de forma bibliográfica, levanta em um primeiro momento as possíveis causas da falta de compreensão, de valores, de ética e de outros aspectos essenciais para uma cultura de paz, caracterizando o meio degradado de modo geral e especificamente diante da escolha pela alimentação de animais ou produtos fabricados a partir de seus organismos e por meio da educação ambiental, em um segundo momento, busca a compreensão sobre as
conseqüências do alimentar-se/nutrir-se de uma outra forma, pois, “a forma como nos alimentamos hoje faz o animal sofrer, provoca uma epidemia de obesidade no mundo e é causa de uma série de doenças” (SINGER, 2007), além da grande contribuição com a violência em seu mais amplo sentido que desencadeia na violação do equilíbrio das forças vitais por meio do enfraquecimento dos valores e da ética e consequentemente em um profundo impacto no planeta, no meio ambiente, na vida que desencadeia em um enorme desequilíbrio, afetando destrutivamente a qualidade de vida.
Num primeiro momento, pequenas infrações isoladas parecem não ter importância. Mas, ao longo do tempo, a moral da comunidade é afetada em todas as suas esferas. Chamo a isso de círculo ético. Uma ação interfere na outra, e os valores morais perdem força, vão se diluindo. Para uma sociedade ser justa, o círculo ético é essencial. (ibid)
Por isso “o problema da compreensão tornou-se crucial para os humanos. E por este motivo, deve ser uma das finalidades da educação do futuro”. (MORIN, 2004, p. 93)
A compreensão é a um só tempo meio e fim da comunicação humana. Entretanto, a educação para a compreensão está ausente no ensino. O planeta necessita, em todos os sentidos, de compreensão mútua. Considerando a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão pede a reforma das mentalidades. Esta deve ser a obra para a educação do futuro.
A compreensão mútua entre os seres humanos quer próximos, quer estranhos é daqui para frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado de incompreensão.
Daí decorre a necessidade de estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Este estudo é tanto mais necessário porque enfocaria não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. Constituiria, ao mesmo tempo, uma das bases mais seguras da educação para a paz, à qual estamos ligados por essência e vocação. (ibid, p. 16-17)
Contudo, esse trabalho traz à tona, os pensamentos que permeiam e que fundamentam os benefícios do vegetarianismo inserido na educação escolar de modo interdisciplinar e contextualizado, para a reversão desse quadro, como os princípios da complexidade, do pensamento crítico e sistêmico presentes nas obras de autores como Fritjof Capra, Edgar Morin, Enrique Leff, Aloísio Ruscheinky, dentre outros, o da racionalidade ambiental mais propriamente
abordado nas obras de Enrique Leff, questões sobre a ética, alimentação e a globalização que recheiam a obra do filósofo Peter Singer, além de reflexões sobre educação ambiental encontradas nas obras de Isabel Cristina de Moura Carvalho, Genebaldo Freire Dias, dentre outros e sobre a antroposofia de Rudolf Steiner para em conjunto auxiliar na formação de novas paisagens no ambiente escolar. Tudo isso para expor sobre a experiência positiva a ser proporcionada pela alimentação vegetariana como facilitadora na semeadura dos importantes valores que refletem sobre os aspectos ético, espiritual, psicológico, filosófico, social, econômico e ambiental da vida como um todo.
2 TRAÇOS DE DEGRADAÇÃO
A degradação da vida, segundo Mendonça (2004, p. 15), vem acompanhada da alteração do equilíbrio psíquico das pessoas, resultante de um modo de ser e pensar agressivo ao meio natural e aos seres humanos que tem de se tornar aptos aos ritmos e às atividades incompatíveis com a sua natureza biológica e psicológica.
De acordo com Capra (1996, p. 23-26) uma série de problemas globais entendidos de forma isolada estão danificando a biosfera e a vida em seu sentido mais amplo, de uma maneira alarmante, acarretando na extinção de espécies animais e vegetais em uma escala massiva, na violência étnica e na violência de um modo geral, derivadas de uma crise de percepção e de um modo de vida moderno, científico, industrial orientado para o crescimento e materialista, onde a visão de mundo é obsoleta e a percepção da realidade inadequada para lidar em um mundo globalizado. Tudo isso acompanhado ainda de um “correspondente aumento dos problemas de saúde dos indivíduos” (id, 1982, p. 22), podendo citar as doenças nutricionais e infecciosas no Terceiro Mundo e as doenças crônicas e degenerativas, chamadas de “doenças da civilização” nos países industrializados, dentre elas enfermidades cardíacas, o câncer e o derrame, além das de aspecto psicológico como a depressão grave, a esquizofrenia, dentre outros distúrbios de comportamento que brotam de uma “deterioração paralela de nosso meio social”.
Com isso inclui-se o aumento de crimes violentos, de acidentes, de suicídios, do alcoolismo, do consumo de drogas e de crianças com deficiência de aprendizagem. (ibid)
A dinâmica atrelada a todas estas patologias sociais é a mesma e vem sendo alimentada ao longo de toda a história junto às “ações humanas consideradas „necessárias‟ ao bem da humanidade” (FELIPE, 2008, p. 2), fazendo com que o homem de modo desenfreado e embasado em uma visão mecanicista e em uma ordem coisificada e fragmentada venha a ter domínio e controle sobre o mundo, principalmente sobre tudo o que considera inferior a ele.
Assim, justifica-se “o seqüestro dos africanos e sua venda como mercadoria para o serviço das lavouras dos brancos em toda a América, o uso e extermínio dos animais e a destruição dos ecossistemas naturais” (ibid)
“A visão mecanicista da razão cartesiana converteu-se no princípio constitutivo de uma teoria econômica que predominou sobre os paradigmas organicistas dos processos da vida” (LEFF, 2001, p. 15), gerando desta forma processos ininterruptos de degradação, principalmente pela falta de compreensão sistêmica que sustenta uma cultura ultrapassada, limitada e insatisfatória para enfrentar os principais problemas de nosso tempo.
Esse pensamento modelado, padronizado durante centenas de anos e a falta de uma compreensão sistêmica que ainda continua a exercer uma forte influência sobre a vida de maneira geral promove a tirania humana e impede o homem de se aceitar como parte da natureza, julgando-se como ser especial, o único com uma mente racional. Se assim somos, somos também capazes de deliberar sobre nossas escolhas. Então, por que “abdicar precisamente da responsabilidade de raciocinar e de assumir as conseqüências de nossas ações”? (FOX apud FELIPE, 2008, p. 4)
O ato de comer perde a aura de inocência no momento em que os humanos têm à sua disposição as mais diversificadas fontes naturais de nutrientes vegetais, mas insistem em encher seu prato de pedaços de carcaças que constituíram organismos de indivíduos animais que viveram uma experiência particular de vida. (FELIPE, 2008, p. 3)
De acordo com Darwin apud Shöpke (2004, p. 27), somos apenas parte da evolução natural do mundo, ou seja, basicamente não passamos de animais,
como tantos outros de nosso planeta, tendo todos os seres a mesma origem e sendo feitos da mesma substância.
A noção de homem superior e dominador da natureza foi apoiada e encorajada pela tradição judaico-cristã aderida à imagem de um deus masculino, personificação da razão suprema e fonte do poder último, que governa o mundo a partir do alto e lhe impõe sua lei divina que se reflete nas leis da natureza, investigadas pelos cientistas e vistas como originadas no espírito de Deus. (CAPRA, 1982, p 38)
Hoje se torna cada vez mais evidente a relação das atitudes antiecológicas com a excessiva ênfase dada ao método científico e ao pensamento racional, que dificulta a compreensão dos ecossistemas, já que este tipo de pensamento é linear, enquanto a consciência ecológica decorre de uma intuição de sistemas não lineares, manifestando-se com isso “uma flagrante disparidade entre o desenvolvimento do poder intelectual, o conhecimento científico e as qualificações tecnológicas, por um lado, e a sabedoria, a espiritualidade e a ética, por outro”. (ibd, p. 39)
3 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO: HÁBITOS QUE INFLUENCIAM O MEIO AMBIENTE E O BEM ESTAR SOB OS ASPECTOS ÉTICO, PSICOLÓGICO, ESPIRITUAL, FILOSÓFICO, SOCIAL, ECONÔMICO E AMBIENTAL
O que ingerimos é inicialmente determinado pela cultura da qual fazemos parte sem ao menos ser questionado sobre o benefício ou malefício de tal escolha a tudo o que é diretamente afetado por ela (FELIPE, 2008, p. 2).
Hoje, a dieta humana passa a ser global não mais regional e os alimentos a “ser oferecidos a todos os olhos e estômagos, disseminando com isso as conseqüências da padronização que o processamento de alimentos sofre nesse terceiro milênio da civilização judaico-cristã” (ibid, p. 3) e propagando a necessidade do ato de alimentar-se deixar de ser considerado uma atividade natural, sem conexão ao caos instalado, para que seja analisado de forma complexa, uma vez que exerce uma forte pressão sobre os ecossistemas e sobre todas as formas de vida.
Considerando o mundo constituído não somente de matéria e força, mas essencialmente de vida e consciência, alimentando-se de animais e/ou de seus produtos derivados, o que implica em atos de crueldade, torturas e matanças, o homem contribui com sofrimentos sobre todos no planeta, fazendo refletir em toda parte novas formas de miséria e energias destruidoras. (BESANT; LEADBEATER, 1995, p. 81-87)
Essas energias são explicadas por uma corrente filosófica chamada Teosofia, que considera o homem como parte de um grande sistema de evolução e como um elo de uma grande cadeia, e que juntamente às leis ocultas da natureza parte do princípio que por meio de correntes magnéticas ocorrem vibrações como reflexos das ações e pensamentos dos seres do planeta que interpenetram o nosso mundo material e causam interferência sobre a mente humana. (ibid, p. 81-94 passim)
Com isso, Besant; Leadbeater (1995, p. 95-101) expõem sobre o profundo sentimento de depressão que invadem os arredores de um matadouro e sobre os horrores preliminares dos transportes, a privação de alimento, a sede, as longas experiências de horror como a permanência em currais restritivos, a separação das famílias, a administração de hormônios e outros medicamentos, e os maus tratos em geral que outros seres têm que sofrer para satisfazer o apetite humano. Um apetite que deveria ser saciado de acordo com as reais necessidades dietéticas, na busca de corpos e mentes mais puros e limpos, onde se incluem os elementos essenciais para reparar e construir o corpo, nutrindo as células e a vida em sua essência, todos encontrados em maior quantidade nos vegetais, como: proteínas, carboidratos, lipídios/gorduras, água, vitaminas e sais minerais. (ibid, p. 21)
A produção e consumo da carne geram custos econômicos, culturais, sociais, estéticos, ambientais, éticos, morais… E infelizmente, quase todos desconhecidos da maioria das pessoas. (SVB)
A imposição de um padrão alimentar que atende os interesses do agronegócio, dominante ao redor do planeta desde os anos 70 do séc. XX, faz expandir a indústria da carne e seus derivados às custas de “desmatamentos, da destruição da biodiversidade, da contaminação e desperdício d‟água, da poluição
do ar, do esgotamento dos solos, do desperdício de energia, do desemprego, revelando-se opção por um desenvolvimento insustentável” (DUARTE, 2008, p. 12), predatório e cruel, pois o comércio desses alimentos implica além da degradação ambiental, na matança e tortura dos animais, como alguns exemplos apresentados por FELIPE (2008, p. 5-10):
- Os pintinhos, nascidos junto à indústria de ovos, em menos de um dia após o seu nascimento são jogados sob uma esteira para que os machos sejam descartados em sacos plásticos que ao serem fechados morrem por sufocação ou mesmo atirados em uma máquina de triturar onde são triturados ainda vivos. Ao acabar o tormento dos pintinhos machos, inicia o das fêmeas, que são levadas até uma máquina para ser cortada uma parte de seus bicos (até um terço) e sendo após, cauterizado sem anestesia o que resta, estendendo-se assim o processo doloroso de 5 ou 6 semanas. Isso ocorre pelo fato de serem confinadas em um espaço muito pequeno junto a um grande número de galinhas, causando estress e fazendo com que passem a bicar tudo o que vêem pela frente. Aos 120 dias são confinadas definitivamente de onde sairão mortas por exaustão ou pelo abate. Felipe (2008, p. 6-8) cita ainda outras torturas, como o piso aramado das gaiolas que causam ferimentos em seus pés e outros problemas como prolapso no útero, que adquirem pelo esforço ininterrupto de expelirem ovos, morrendo de agonia sem nenhum tratamento veterinário. Já quando “gastas”, por terem seu valor comercial baixíssimo, as galinhas são muitas vezes enterradas ou trituradas vivas. Assim, “dor, sofrimento e morte compõem o cenário de cada ovo, apesar de sua aparência tão inocente e lisinha”;
- A vida dolorosa das vacas destinadas à indústria do leite dura muito mais tempo que as destinadas ao corte, ainda que ao final de suas vidas sejam também destinadas ao abate. Elas vivem grávidas 9 dos 12 meses do ano e seus bezerros são amamentados apenas por dois dias após o nascimento, sendo logo depois abatidos ou confinados em um caixote sem luz solar, sem espaço para que possam pular, mover-se ou prover-se, e sem alimentação nutritiva, pois o objetivo é que sua carne fique pálida e macia, para a produção de vitela, ao gosto dos comedores humanos. Cada vez que a vaca dá a luz passa por esse sofrimento de terem seus filhos levados embora.
De acordo com Singer ( 2002, p 129), as vacas mães continuam chamando pelos seus bezerros muitos dias depois de serem levados. Markus apud Felipe (2008, p. 9) diz que
o trauma causado por essas separações é uma razão pela qual algumas vacas acabam sendo mandadas para o matadouro mais cedo. Na maior parte dos casos, as vacas são levadas para o abate, ou porque ficaram doentes, ou porque a quantidade de leite caiu abaixo dos níveis tolerados pela margem de lucro dos produtores. Mas, em pelo menos 1% dos casos, as vacas são mortas por perderem sua doce disposição psicológica, por tornarem-se perigosas. Quando levadas para a ordenha mecânica, algumas dão coices nos trabalhadores que operam as máquinas de tirar leite.
Ainda segundo Singer (2002, p. 129) o efeito da morte de um animal sobre o seu companheiro acarreta mais sofrimentos, além da sensação de perda e tristeza por parte do sobrevivente.
Esses são apenas alguns exemplos dentre muitos outros de obtenção de benefícios e vantagens do ser humano às custas de dor, sofrimento e morte de outros animais.
Contudo restam as perguntas: Do que a raça humana está se alimentando? O que está alimentando? E do que está nutrindo-se? De terror, de horror, de ódio, de vingança, de tortura, de crueldade, de sofrimento? Está alimentando uma atmosfera destrutiva de valores, da ética, da espiritualidade. Pois, a constante matança e crueldade contra outras vidas, e especialmente contra os animais para alimentação humana invocam o espalhar contínuo dessas influências magnéticas e atua diretamente sobre as criaturas, sobre o seu bem estar, tendendo a torná-las mais grosseiras, violentas, a degradá-las e poluí-las ainda mais. Pois, “não é só o corpo que é poluído pela carne dos animais; são as forças mais sutis do homem que entram também na área desta corrupção”. (BESANT; LEADBEATER, 1995, p. 96)
Além da negação ao direito intrínseco à vida e do sofrimento causado, todo o processo que envolve esses alimentos promove uma série de custos conseqüentes da degradação ao meio onde habitam os seres.
De acordo com a SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira, no Brasil, um quilo de carne bovina é em média responsável por:
10 mil metros quadrados de floresta desmatada; consumo de 15 mil litros de água doce limpa; emissão de dióxido de carbono diretamente na atmosfera; emissão de metano na atmosfera; despejo de boro, fósforo, mercúrio, bromo, chumbo, arsênico, cloro entre outros elementos tóxicos provenientes de fertilizantes e defensivos agrícolas, que se infiltram no solo e atingem os lençóis freáticos; descarte de efluentes como sangue, urina, gorduras, vísceras, fezes, ossos e outros, que acabam chegando aos rios e oceanos depois de contaminarem solo e aqüíferos subterrâneos; consumo de energia elétrica; consumo de combustíveis fósseis; despejo no meio ambiente de antibióticos, hormônios, analgésicos, bactericidas, inseticidas, fungicidas, vacinas e outros fármacos, via urina, fezes, sangue e vísceras, que inevitavelmente
atingem os lençóis freáticos ; liberação de óxido nitroso, cerca de 300 vezes mais prejudicial para a atmosfera do que o CO2; pesados encargos para os cofres públicos com tratamentos de saúde decorrentes da contaminação gerada pela pecuária; gastos do poder público com infra-estrutura e saneamento necessário para equilibrar os danos causados pela pecuária; custo dos incentivos fiscais e subsídios concedidos pelos governos estaduais e federal para a atividade pecuária.
Assim, a criação de animais para consumo se beneficia da ignorância do público sem a revelação de informações sobre os meios e as conseqüências desse tipo de produção para a sua vida e a de todo o planeta.
4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NOVOS CONCEITOS E SENTIDOS
Nossas visões ou conceitos organizam o mundo e sustentam a nossa cultura, caracterizando uma civilização insustentável de acordo com os atuais sistemas de valores. (GRÜN, 2009, p. 22)
Daí a importância da educação ambiental, para uma “discussão, tematização e reapropriação de certos valores; valores estes que muitas vezes não estão no nível mais imediato da consciência, mas se encontram reprimidos e recalcados através de um longo processo histórico, pela tradição dominante do racionalismo cartesiano”. (ibid)
De acordo com o art. 10º e seu §1º da Lei 9.795 de 27 de abril de 1999, que “dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências”, “a educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis
e modalidades do ensino formal” e “não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino”.
Com isso ela surge para integrar, dentro da escola, a natureza complexa da vida, totalmente desintegrada pelas disciplinas, auxiliar no desenvolvimento da aptidão natural do espírito humano para situar todas as informações em um contexto e “ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo”. (MORIN, 2004, p 15-16) E ainda mostrar e fazer compreender que o destino da espécie humana depende de todos os seus destinos entrelaçados e inseparáveis como o social, histórico, espiritual, psicológico, cultural etc.
Para tanto, é necessário uma abertura no currículo escolar suficiente para a discussão e contemplação de novas práticas educativas, entendidas como totalizadoras e interdisciplinares, exigidas pelas questões contemporâneas para a possibilidade de se construir novos territórios do pensamento e da ação crítica e assim produzir efeitos a partir de uma mudança cultural.
A inserção da interdisciplinaridade jamais será uma tarefa fácil, cômoda e estável, pois, “as armadilhas de uma cientificidade normativa e tecnicista seguem influenciando a esfera educativa”. Mas, “assumir uma postura interdisciplinar como abertura a novos saberes é situar-se intencionalmente na contracorrente da razão objetificadora e das instituições” para despertar a enorme expectativa renovadora do sistema de ensino, da organização e conteúdos escolares rumo a novos sentidos e a novos modos de compreender, aprender e ensinar, enfrentando o desafio de encontrar os caminhos possíveis para integrar a felicidade humana ao respeito às mais diferentes formas de vida. (CARVALHO, 2008, p. 124-125)
4.1 NUTRINDO-SE DE PAZ COM A EDUCAÇÃO ESCOLAR
A implementação da alimentação vegetariana na escola requer um trabalho interdisciplinar e contextualizado, em auxílio à promoção da compreensão dos processos de manutenção da vida com cooperação, parceria e participação em rede. Assim, será também melhor compreendida a estrutura de rede dos sistemas
e desenvolvido em seu potencial o respeito e o aperfeiçoamento aos princípios da ecologia e da vida. Valores estes reconhecidos como ferramentas para um processo de cura a caminho de um mundo de paz.
A compreensão favorece um ambiente respeitoso destituído de atitudes debilitantes e de estreiteza mental (Organização Brahma Kumaris, 2005, p. 34) e na prática “transcende a mera observação da essência do mundo e dos fenômenos universais”, para a partir da dualidade eu-mundo alcançar a compreensão que funde “o investigador numa unidade vivencial harmônica com os processos que ele estuda”. (MIZOGUCHI, 2006, p. 66)
Nesse processo, de acordo com Steiner apud Mizoguchi (2006, p 66), embasado na antroposofia, o homem reconhece que contém em si os reinos da natureza: o reino mineral, presente nos ossos e em toda estrutura física; o reino vegetal presente nos processos vitais, nos líquidos humorais e sangue, similar às seivas das plantas; e o reino animal, presente nos seus instintos e sensações. Mas, de acordo com o autor, o que se amplia no homem é a faculdade espiritual, de autoconsciência, ligada aos ideais e à compreensão do sentido ético das escolhas.
Steiner desenvolve a antroposofia, definindo-a como um caminho de conhecimento capaz de dar respostas rigorosas e comprováveis a todos os campos relacionados ao homem e seu mundo. A antroposofia entende o ser humano como um microcosmo no qual vibram e pulsam os processos do universo. (ibid, p 68)
Com isso, a vida é reflexo da vibração interna de cada um e uma nutrição consciente na escola pode formar agentes transformadores da realidade dos bairros, das cidades, do país, do mundo.
Assim, a revolução pedagógica deve dar-se de maneira que faça restabelecer a ligação do jovem com o lugar onde vive num processo de engajamento com os sistemas vivos e com a vida de todos que dependem desses sistemas. (CAPRA, 2006, p. 179)
A alimentação vegetariana deve fazer parte do currículo escolar e vir acompanhada dessa revolução estabelecendo ligações entre uma alimentação melhor, o valor intrínseco da vida, redução do volume do lixo, do desperdício, a
reciclagem etc, por meio de atividades e projetos capazes de desenvolver vínculos emocionais e estéticos com o mundo natural.
Fox apud Felipe (2008, p. 11) lista argumentos que sustentam o vegetarianismo, que vão desde a própria saúde até o aperfeiçoamento espiritual:
Saúde; Sofrimento e morte dos animais; Preocupação moral imparcial e desinteressada; Preocupação ambiental; Manipulação da natureza; Fome mundial e injustiça social; Formas interconectadas de opressão; Compaixão e similitude entre espécies; Ahimsa ou não-violência universal; Argumentos espirituais.
Capra (2006) cita algumas atividades vivenciadas por crianças e adolescentes ligadas de alguma forma ao Centro de Eco-Alfabetização de Berkley, na Califórnia, como: a observação da vida em parque infantil; a combinação de ciências e artes em meio à natureza, que auxilia “no reconhecimento de padrões, na solução de problemas, na experimentação e no modo de pensar por analogia; a aprendizagem na cozinha sobre a magia da hospitalidade, da generosidade, os valores que transformam a vida e o mundo a nosso redor, pois, se pararmos para pensar em nossa alimentação perceberemos que a comida pode nos ensinar sobre as coisas que realmente importam; a aprendizagem na própria área da escola e no seu entrono, como por exemplo na bacia hidrográfica; e aprendizagem na horta, repensando a alimentação e melhor conhecendo os ciclos vitais. Na horta aprende-se que o solo fértil é vivo e que as bactérias que existem a cada centímetro são essenciais para a vida na terra, precisando ser preservada a integridade dos grandes ciclos ecológicos nas práticas de jardinagem e agricultura.
Esse princípio, baseado num profundo respeito pela vida, faz parte de muitos métodos tradicionais de cultivo da terra e está sendo hoje resgatado num movimento mundial da agricultura orgânica. (ibid, p. 15)
Outros autores como Dias (2006), também trazem em suas obras, práticas inovadoras de educação ambiental sobre temas atuais, contextualizados, onde permeiam a sustentabilidade e a ética e que são capazes de ampliar a percepção, promover o senso crítico e autocrítico, para o resgate de valores, resolução de
problemas de insustentabilidade e produção de mudanças sobre os hábitos de vida.
O essencial, junto a essas atividades, é religar os educandos aos fundamentos básicos de seus hábitos, neste caso, especificamente, referentes à sua alimentação, para conscientes do que estão promovendo moldarem as suas práticas na busca de uma cultura de paz, pois, de acordo com Abelman apud Capra (2006, p. 186), “criar filhos íntegros é cultivar alimentos saudáveis”.
5 CONCLUSÃO
Nossa alimentação reflete diretamente sobre o bem estar do planeta como um todo. Portanto, satisfazer as próprias necessidades e buscar o prazer às custas do sacrifício de outras vidas demonstra a falta de compreensão sobre a complexidade da vida, a falta de valores, de ética e de outros aspectos essenciais para uma cultura de paz, tornando-se assim urgente a apresentação de novas práticas pedagógicas a caminho da inversão desse quadro por meio da aquisição de novos saberes, novos sentidos, novos valores, nova cultura.
Pois, a banalização da vida de outros seres, acarreta na banalização da vida humana, tornando admissível que a própria vida venha a ser banalizada por outros que da mesma maneira desdenham o valor que o fato de estar vivo possa ter para nós.
REFERÊNCIAS
BESANT, Annie; LEADBEATER, C. W. Vegetarianismo e Ocultismo. 2. ed. Brasília: Ed. Teosófica, 1995. 113p.
BRASIL. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Presidência da República: Casa Civil, Subchefia de Assuntos Jurídicos, Brasília, 27 ab. 1999. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 02 mai. 2008.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. 256p.
_____. O Ponto de Mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix , 1982. 447p.
CAPRA, Fritjof et al. Alfabetização Ecológica: a educação das crianças para um mundo sutentável. São Paulo: Cultrix, 2006. 312p.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008. 256p.
DIAS, Genebaldo Freire. Atividades interdisciplinares de educação ambiental. São Paulo: Gaia, 2006. 224p.
DUARTE, Ilka de Souza. Impactos ambientais da produção de carne para consumo humano: a indústria da carne na contramão da tutela constitucional do meio ambiente. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2008. Disponível em:. Acesso em: 05 jul. 2010.
FELIPE, Sônia T. Ética na alimentação: o fim da inocência. In: ENCONTRO TEMÁTICO DA SVB, 2008. Brasília. Palestra. Brasília: SVB, 2008. Disponível em: . Acesso em: 05 mar. 2010.
GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. 12. Ed. Campinas: Papirus, 2009.120p.
LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
_____. Aventuras da Epistemologia Ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. 240p. 240p.
MENDONÇA, Rita. Como cuidar do seu meio ambiente. 2. Ed. São Paulo: BEI, 2004. 276p.
MIZOGUCHI, Shigueyo M. Rudolf Steiner e A Pedagogia Woldorf. Viver mente & Cérebro. Coleção memória da pedagogia: perspectivas para o novo milênio. São Paulo: Duetto, v.6, n.6, p. 66-77, 2006.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 9. Ed. São Paulo: Cortez, 2004. 118p.
ORGANIZAÇÃO BRAHMA KUMARIS. Vivendo Valores: um manual. 6. ed. Trad. Sandra Costa. São Paulo: Brahma Kumaris, 2005. 111p.
SCHÖPKE, Regina. A Reconciliação com a Natureza. Viver Mente & Cérebro. São Paulo, ano XVII, nº 151, p. 26-31, ago. 2005.
_____. A Ética do dia a dia. Revista Veja. São Paulo: Abril, Edição 1996, 21/02/2007. Disponível em: . Acesso em: 05 mar. 2010.
SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira. Impactos sobre o Meio Ambiente do Uso de Animais para Alimentação. Disponível em: http://www.svb.org.br/vegetarianismo/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=130&Itemid=95>. Acesso em: 05 mar. 2010.
Uma eterna Treblinka. Assim é a vida dos animais criados para alimentar as pessoas, dispara o filósofo britânico David Pearce. “Suspeito que nossos descendentes venham a considerar o modo como seus ancestrais trataram membros de outras espécies não apenas como não ético, mas como um crime no mesmo nível do Holocausto”, afirmou na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line.
Em seu ponto de vista, não é preciso que o ente seja inteligente para sofrer profunda aflição: “uma convergência de indícios evolutivos, comportamentais, genéticos e neurocientíficos sugere que os animais não humanos que exploramos e matamos sofrem intensamente – da mesma maneira como ‘nós’”. Assim, é necessário desenvolver um “senso mais inclusivo e solidário de ‘nós’ que abranja todos os seres sencientes”. E completa: “as limitações intelectuais de animais não humanos são uma razão para lhes dar maior cuidado e proteção, não para explorá-los”.
Pearce questiona, também, sobre o sentido ético de consumir carne: “o prazer que muitos consumidores têm ao comer carne de animais mortos tem moralmente mais peso do que o sofrimento embutido em sua produção?” Uma de suas ideias é a produção de carne in vitro, alimentação “isenta de crueldade” que daria um passo importante para o desenvolvimento da civilização. “Os maiores obstáculos a um mundo sem sofrimento serão éticos e ideológicos, não técnicos”, emenda.
David Pearce é filósofo e pesquisador inglês, representante do chamado “utilitarismo negativo” em ética. Destacou-se em 1995, ao escrever um manifesto online nomeado The hedonistic imperative, no qual defendeu a utilização de biotecnologias para abolir o sofrimento em toda a vida senciente. Os principais escritos de David Pearce baseiam-se na ideia de que há um forte imperativo moral que impele os seres humanos a abolirem o sofrimento em toda a vida senciente. Em 1988, com Nick Bostrom, fundou a Associação Mundial Transumanista.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Em que aspectos o abolicionismo e o veganismo são importantes na construção de uma sociedade mais ética e solidária em nossos dias?
David Pearce - Tomemos um exemplo concreto: um porco. Um porco tem a capacidade intelectual – e, criticamente, a capacidade de sofrer – de uma criança pequena de 1 a 3 anos. Nós reconhecemos que as crianças pequenas têm direito a amor e cuidado. Em contraposição a isso, criamos intensivamente em confinamento e matamos milhões de porcos usando métodos que acarretariam uma sentença de prisão perpétua se nossas vítimas fossem humanas.
É claro que um porco não é um membro de “nossa” espécie. Mas a questão não é se existem diferenças genéticas entre membros de raças ou espécies diferentes, mas se essas diferenças são moralmente relevantes. Diferentemente dos humanos, os animais não humanos carecem da estrutura neocortical que possibilita o uso da linguagem. Entretanto, por que esse módulo funcional haveria de conferir alguma espécie de status moral singular a seu proprietário? Deveriam os surdos-mudos humanos ser tratados da forma como tratamos os “animais irracionais”? Intuitivamente, nós imaginamos que os seres humanos sejam “mais conscientes” do que os não humanos que exploramos. Isto é porque a maioria dos adultos humanos são mais inteligentes do que a maioria dos animais não humanos. Mas existe qualquer prova dessa ligação entre destreza intelectual e intensidade de consciência? O que é notável é como as mais “primitivas” experiências pelas quais passamos – por exemplo, a agonia pura ou o pânico cego – são também as mais intensas, ao passo que as mais cerebrais – por exemplo, a geração de linguagem ou a demonstração de teoremas matemáticos – são fenomenologicamente tão tênues que quase não são acessíveis à introspecção.
Em suma, não é necessário ser inteligente para passar por profunda aflição. Uma convergência de indícios evolutivos, comportamentais, genéticos e neurocientíficos sugere que os animais não humanos que exploramos e matamos sofrem intensamente – da mesma maneira como “nós”. Portanto, o que se faz necessário, em minha opinião, é um senso mais inclusivo e solidário de “nós” que abranja todos os seres sencientes.
Abolicionistas e veganos
Um consumidor de carne poderia responder que nós deveríamos valorizar uma criança pequena mais do que um animal não humano funcionalmente equivalente porque a criança humana tem o “potencial” de se tornar um ser humano adulto intelectualmente maduro. Mas este argumento simplesmente não funciona, pois nós reconhecemos que uma criança com uma doença progressiva que nunca completará 3 anos é digna de amor e respeito da mesma forma que as crianças que estão se desenvolvendo normalmente. Dentro da mesma lógica, as limitações intelectuais de animais não humanos são uma razão para lhes dar maior cuidado e proteção, não para explorá-los.
Talvez uma observação terminológica seja útil neste ponto. O termo “vegano” está bastante bem definido. Um vegano é um vegetariano rigoroso que não consome produtos de origem animal. Em contraposição a ele, o termo “abolicionista” tem sentidos múltiplos. Dois deles são relevantes neste contexto. Um sentido se deriva da bioética: os abolicionistas creem que deveríamos usar a biotecnologia para eliminar progressivamente todas as formas de sofrimento, tanto humano quanto não humano. O segundo sentido se deriva dos textos do jurista americano Gary Francione. Francione sustenta que os animais não humanos só precisam de um direito, a saber, o direito de não ser considerados propriedade. Por conseguinte, deveríamos abolir o status dos animais não humanos como propriedade. Bem, certamente é viável ser abolicionista em ambos os sentidos. Mas eles refletem perspectivas diferentes: é possível ser abolicionista num sentido, e não no outro.
IHU On-Line - Por que não deveríamos comer produtos de origem animal?
David Pearce - Atualmente, milhões de pessoas no mundo desfrutam de um estilo de vida vegano isento de crueldade. As tradições culturais do subcontinente indiano são em grande parte veganas. Uma minoria pequena mas crescente de pessoas no mundo ocidental também adotaram um estilo de vida vegano isento de crueldade. Comer, ou não, produtos de origem animal é, em última análise, uma questão de opção. Abrir mão de alimentos de origem animal não exige um sacrifício pessoal heroico, mas meramente uma branda inconveniência pessoal.
Na verdade, se a pessoa se der o trabalho de explorar a culinária vegana, verá que há uma variedade imensa de pratos entre os quais se podem escolher. Afinal, há literalmente milhares de vegetais ou verduras diferentes, mas apenas alguns poucos tipos de carne. Então, em termos éticos, acho que temos de perguntar o seguinte: o prazer que muitos consumidores têm ao comer carne de animais mortos tem moralmente mais peso do que o sofrimento embutido em sua produção? Podemos alguma vez justificar a “posse” de outro ser senciente – quer humano, quer não humano? Segundo que direito?
Não vou tentar me confrontar aqui com os amoralistas ou os niilistas morais. Os niilistas morais sustentam que todos os juízos de valor são puramente subjetivos, isto é, nem verdadeiros, nem falsos. Mas até mesmo eles normalmente deploram o abuso de crianças. Na medida em que o abuso de crianças é moralmente errado, é arbitrário negar que o abuso de criaturas funcionalmente equivalentes também seja moralmente errado.
IHU On-Line - Quais são os diferentes desafios dessas duas correntes hoje, frente à indústria da carne e as plantações massivas de soja e milho, cultivadas para alimentar o gado?
David Pearce - Talvez o desafio mais desanimador seja a apatia moral. George Bernard Shaw observou sagazmente que “o costume reconcilia as pessoas com qualquer atrocidade”. Infelizmente, essa observação não é menos verdade hoje em dia. Se pressionadas, muitas pessoas – talvez a maioria das pessoas – reconhecerão que a criação intensiva de animais em confinamento é cruel. Mas, na maior parte, depois elas vão encolher os ombros e continuar a consumir carne e produtos de origem animal como antes. Outros consumidores de carne parecem imaginar que a criação intensiva de animais em confinamento é apenas um pouco superlotada e que o “gado” é sacrificado sem dor, como um animal de estimação doente que sofre a eutanásia nas mãos de um veterinário gentil. Poucos e poucas de nós jamais estiveram dentro de um matadouro.
Nem todos os consumidores de carne estão tão pouco dispostos a se envolver com argumentos morais. Alguns intelectuais consumidores de carne tentam racionalizar o egoísmo com a chamada Lógica da Despensa. A Lógica da Despensa é o argumento de que, se os animais não humanos não fossem criados em escala industrial para nosso consumo, eles não existiriam – o que se pressupõe, neste caso, é que a vida na criação intensiva em confinamento vale ao menos minimamente a pena viver. Assim, em algum sentido, nossas vítimas estão, sem querer, em dívida conosco. Assim como é formulado, esse argumento justificaria que se criassem bebês para consumo humano, e não apenas animais não humanos. Por analogia, o argumento também permitiria a escravidão humana, ao menos se os escravos fossem criados para essa finalidade. Mais relevante, porém, é que os animais criados intensivamente em confinamento passam quase toda a sua vida abaixo do “zero hedônico”. Em muitas casos, a aflição deles é tão desesperada que precisam ser impedidos de se automutilar. A crença de que os seres humanos estejam fazendo alguma espécie de favor aos animais criados em escala industrial exige uma extraordinária capacidade de enganar a si mesmo.
Sofrimento institucionalizado
Vale a pena enfatizar que a miséria suportada por animais criados intensivamente em confinamento é sofrimento institucionalizado, e não apenas um “abuso” isolado. As empresas da “indústria” da carne têm uma obrigação jurídica de maximizar os lucros dos acionistas. Mesmo que essas empresas quisessem tratar os animais cativos menos insensivelmente, essas reformas seriam contrárias à lei se as medidas de bem-estar diminuíssem o retorno para os acionistas, uma vez que o custo tiraria as firmas “ineficientes” do mercado.
IHU On-Line - O que se pode fazer, então?
David Pearce - Bem, creio que uma estratégia de mão dupla é vital. Por um lado, precisamos usar argumentos morais e campanhas políticas para conscientizar as pessoas da difícil situação dos animais não humanos. Muitos consumidores de carne ficam genuinamente chocados quando veem vídeos saídos clandestinamente de criadouros industriais de animais ou matadouros que mostram o que realmente acontece lá. “Se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos nós seríamos vegetarianos”, disse Paul McCartney. Talvez não, mas o processo de conversão certamente se aceleraria.
O que é mais controvertido, entretanto, é minha opinião de que nós precisamos de uma opção de reserva para usar quando a persuasão moral fracassa: tecnologia de produção de carne in vitro. O desenvolvimento de carne deliciosa, produzida artificialmente sem uso de crueldade, de um gosto e uma textura que sejam indistinguíveis da carne produzida a partir de animais intactos será potencialmente escalável, sadia e barata. A primeira conferência mundial sobre produção de carne in vitro foi realizada em Oslo, na Noruega, em 2008. Eu urgiria todo o mundo a apoiar a New Harvest, a organização sem fins lucrativos que está trabalhando para desenvolver carne produzida em laboratório.
Poder-se-ia supor que a maioria dos consumidores jamais venha a comer um produto tão “não natural” quando a carne produzida artificialmente chegar ao mercado. Mas um momento de reflexão sobre as condições não sadias e não naturais dos animais criados intensivamente em confinamento mostra que o argumento do “desagrado” não pesa muito. Na verdade, nosso sentimento de repugnância pode até atuar a favor dos produtos isentos de crueldade em lugar dos animais abatidos. Se os consumidores soubessem o que entra atualmente em produtos de carne e frango – os úberes das vacas com mastite e tumores que caem dentro do leite, os porcos com tumores que entram diretamente no moedor, a gripe suína (H1N1), o hormônio de crescimento de bovinos, toneladas de antibióticos que diminuem a resistência humana, contaminação desenfreada com E. coli, etc. –, não iriam querer comprá-los a preço nenhum. É preciso admitir que com a tecnologia atual só conseguimos produzir carne in vitro com uma qualidade semelhante à carne moída; mas no futuro deveria ser possível produzir em massa bifes de primeira qualidade. A maior incerteza são as escalas de tempo.
Treblinka animal
Sei que muitos militantes em defesa dos animais não se sentem à vontade com a perspectiva da produção de carne in vitro. Eu também me sinto assim. Será que a clareza moral total não seria melhor? Se vejo um açougue ou carne de qualquer espécie, penso em Auschwitz. Ainda assim, muitos consumidores de carne sentem água na boca ao ver carne de animal morto e afirmam que jamais poderiam abrir mão dela.
Do ponto de vista nutricional, isso não faz sentido, mas acho que temos de aceitar o desenvolvimento de carne artificial porque sua fabricação e comercialização em massa possibilitará que as pessoas moralmente apáticas também tenham uma alimentação isenta de crueldade. Quando a maioria da população mundial tiver feito a transição para uma alimentação vegana ou com carne produzida in vitro, prevejo que criar outros seres sencientes para o consumo humano será tornado ilegal sob o direito internacional – assim como é o caso da escravidão humana atualmente. É claro que prever os valores de gerações futuras é algo que contém muitas armadilhas. Mas suspeito que nossos descendentes venham a considerar o modo como seus ancestrais trataram membros de outras espécies não apenas como não ético, mas como um crime no mesmo nível do Holocausto. Como observa o autor judeu Isaac Bashevis Singer, ganhador do Prêmio Nobel, em The Letter Writer (1968): “Em relação aos animais, todas as pessoas são nazistas; para os animais, há um eterno Treblinka.”
IHU On-Line - Em que medida a prática do veganismo e o abolicionismo demonstra preocupação com a alteridade e com a saúde do Planeta Terra em sentido mais amplo?
David Pearce - Tanto um estilo de vida vegano quanto um compromisso com o projeto abolicionista em sentido mais amplo certamente podem expressar uma reverência pela vida na Terra. Ahimsa, que significa não causar dano (literalmente: evitar a violência – himsa) é uma característica importante das religiões do subcontinente indiano, particularmente do budismo, do hinduísmo e em especial do jainismo.
A abolição do consumo de carne vermelha também reduziria os gases emitidos por vacas, ovelhas e cabras que contribuem para o aquecimento global – uma das principais ameaças planetárias com que nos defrontamos nesse século e além dele. Mas a prática do veganismo também pode expressar um ódio puramente secular à crueldade e ao sofrimento. Um ateu cuja vida interior seja um deserto espiritual pode assumir um compromisso com o bem-estar de toda a senciência também. Para ter êxito, precisaremos construir a mais ampla coalizão possível de ativistas e simpatizantes, tanto religiosos quanto seculares.
IHU On-Line - Como podemos compreender o anunciado “pós-humano” no século XXI, quando milhões de pessoas seguem se alimentando de carne e, portanto, de sofrimento e morte?
David Pearce - A adoção global de uma alimentação isenta de crueldade assinalará uma importante transição evolutiva no desenvolvimento da civilização. Talvez a transição leve séculos. Por outro lado, é possível que uma combinação da militância em favor dos animais e do desenvolvimento de tecnologia de produção de carne in vitro produza a revolução alimentar no mundo todo dentro de décadas. Mas tornar-se pós-humano tem um alcance maior do que adotar pessoalmente um estilo de vida isento de crueldade.
Os animais que vivem livremente, “selvagens”, muitas vezes também sofrem terrivelmente – através de fome, sede, doença e predação. A vida darwiniana na Terra está baseada na exploração – basicamente, em que criaturas vivas devorem umas às outras. A “cadeia alimentar” poderia parecer um fato perene da Natureza, no mesmo nível da Segunda Lei da Termodinâmica. Isto tem sido verdade ao longo de centenas de milhões de anos.
Entretanto, uma reação fatalista à “Natureza vermelha [de sangue] em seus dentes e garras” [alusão ao famoso poema “In Memoriam A. H. H.” de Alfred Tennyson] subestima o inaudito poder transformador da ciência moderna em relação ao mundo vivo. Agora deciframos o código genético, a biotecnologia nos permite potencialmente reescrever o genoma dos vertebrados, reprojetar o ecossistema global, regular a fertilidade da espécie toda por meio da imunocontracepção e, em última análise, abolir o sofrimento em todo o mundo vivo.
Neste momento, essa espécie de cenário parece fantasiosa, para não dizer ecologicamente analfabeta. Mas esse projeto será tecnicamente viável no decorrer deste século. Os maiores obstáculos a um mundo sem sofrimento serão éticos e ideológicos, não técnicos.
IHU On-Line - Em que aspectos o veganismo e o abolicionismo destronam a condição antropocêntrica do homem?
David Pearce - A tradição judaico-cristã – e, na verdade, todas as religiões abraâmicas – situa o Homem no centro do universo. É difícil reconciliar esta concepção da humanidade com a teoria da evolução por seleção natural e a síntese neodarwiniana. Mas suponhamos que Deus exista. Todas as tradições concordam que o Deus todo-poderoso é infinitamente compassivo. Se reles mortais conseguem visionar o bem-estar de toda a senciência, deveríamos supor que Deus seja mais limitado na amplitude ou profundeza de Sua compaixão? Essa limitação da benevolência de Deus não parece coerente. Lembre-se também de que o livro de Isaías prediz que um dia o leão e o cordeiro se deitarão lado a lado. Bem, a engenhosidade humana pode fazer assim – só que não apenas pela oração. Um mundo livre de crueldade só pode surgir pelo uso compassivo da biotecnologia: reengenharia genética obrigatória para carnívoros e outros predadores; controle da fertilidade transespécies, implantes de neurochips, vigilância e rastreamento por GPS, nanorrobôs em ecossistemas marinhos e toda uma gama de intervenções técnicas que estão além da imaginação pré-científica.
IHU On-Line - Como o veganismo pode apoiar uma mudança da forma como as pessoas comem e, também, diminuir a fome no mundo?
David Pearce - Uma transição global para uma alimentação vegana isenta de crueldade não irá ajudar apenas os animais não humanos. A transição também ajudará humanos subnutridos que poderiam se beneficiar dos cereais que atualmente são destinados aos animais criados em escala industrial. Ocorre que a criação intensiva em confinamento não é só cruel, mas também energeticamente ineficiente. Tomemos apenas um exemplo. Ao longo das últimas décadas, milhões de etíopes morreram de “escassez de alimentos”, enquanto a Etiópia plantava cereais para vender ao Ocidente para alimentar o gado. Os hábitos de consumo de carne do Ocidente sustentam o preço dos cereais, de modo que os pobres nos países em desenvolvimento não têm condições de comprá-los. Em consequência disso, eles morrem aos milhões. Em meu trabalho, eu exploro soluções futurísticas, de alta tecnologia para o problema do sofrimento. Mas qualquer pessoa que queira seriamente reduzir o sofrimento tanto humano quanto não humano deveria adotar um estilo de vida vegano isento de crueldade hoje