quarta-feira, 25 de novembro de 2015

PAISAGISMO ALIMENTAR a contribuição de uma nutricionista à CULTURA AMBIENTAL nas CIDADES no sex XXI.

Caminhar na(s) cidade(s), conhecer encantos raros, praças, parques, ruelas arborizadas, ainda ouvir pássaros, ver mudanças na paisagem, ocupações urbanas de várias épocas, várias influências. E ainda encontrar espaços para cultivo de plantas coloridas, belezas da natureza...
O momento ambiental que vivemos aponta para recolocar em cena as verdadeiras necessidades dos cidadãos, nas atuais cidades e campos, séc. XXI, e propor o habitat onde o humano ser integra seu espaço, assumindo a melhoria da cidade-espaço-território onde mora, reside.
As soluções criativas vem acontecendo rápida e simultaneamente no Planeta, recriando cidades verdes, coloridas, onde o Paisagismo biodiverso reencontra seu papel de equilíbrio climático e aceita o ALIMENTO como parte desse espaço - um espaço saudável, prazeroso e curativo!
Giba, o Horticultor Urbano, da pg "meu jardim meu alimento" de Blumenau, Rosane Barcellos Mezzosoprano com seu Microfundio, a Feira de Trocas de Sementes e a pg Horticultores Livres em Porto Alegre, o Marco Krug no Sítio da Amizade em Viamao, a Claudia Visoni e as Hortas nas Praças em SAMPA, tem agitado o cenario nestes últimos anos.
Paisagismo ALIMENTAR
O conceito de Paisagismo Alimentar é novo, há poucas referências.
Mas há ideias e práticas onde ele se insere e colabora: permacultura; agrofloresta; paisagismo regenerativo, jardins de cura, jardins comestíveis; construções com bambu, yurts, domos e nas tecnologias de coleta, limpeza e manutenção das águas.
Na internet, o conceito de Paisagismo Alimentar é encontrado em e-book de 2012, de Fernando José Passarelli Neme (1).
“O paisagismo alimentar é a técnica de jardinagem que pretende desenhar locais belos e harmoniosos incorporando a produção de alimentos ao jardim, colaborando com a segurança alimentar urbana do núcleo familiar.”
E em minhas citações, quando retomamos a cultura de plantar e embelezar todo e qualquer espaço disponível. (2). O Giba tem atuado sobre a idéia.
Uma cultura que muitas pessoas trazem no DNA.
O PAISAGISMO ALIMENTAR associa o alimento à paisagem da cidade, reconhecendo regiões onde há vegetação nativa, outras com jardins criados e incluindo as espécies alimentícias a esses sistemas.
E dá soluções ambientais eficazes, recriando micro climas saudáveis (refrescância, oxigenação, aromatização, amortização do barulho, escoamento e limpeza de águas através do sistema de raízes, naturais ou construídos, cisternas, compostagem, atração de pássaros, borboletas, abelhas).
Frutíferas nativas de POA e do RS - amora, guabiju, pitanga,
jaboticaba, goiaba, araçá - estão sendo estudadas e divulgadas pelo InGá-
Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, em projeto com a SMAM- Fundo
Pro Ambiente, ano 2013, com participação do Prof. Paulo Brack-Biologia-
UFRGS.

“Existem na capital gaúcha (e no RS) mais de 50 espécies da flora nativa local que podem ser consumidas como alimentos, mas apesar dessa grande biodiversidade, pouquíssimas dessas plantas são conhecidas ou utilizadas pela população” (3)

O Atlas Ambiental de Porto Alegre, com extrema beleza, convida ao estudo do Sistema Natural, Sistema Construído e Gestão Ambiental de Porto Alegre, propondo uma Ciência Cidadã que co-cria e compartilha conhecimentos em envolvimento comunitário. (4)

Jose Antônio Hoyuela Jayo, na página do Observatório da Diversidade Cultural, conta o pensar da nova legislação ambiental ibérica:

“essas leis consideram a paisagem um bem público, direito de todas as pessoas com a gestão e execução para a transformação do território”.

A Paisagem é Cultura. (5).

Na Espanha: Lei da Paisagem de Catalunha, 2005; Valencia, 2004; Galiza, 2009, País Basco (projeto de lei 2012),

No Brasil, a Chancela Paisagem Cultural foi adotada em 2009, com importantes avanços nesta linha, mas, com duas diferenças fundamentais em relação ao conceito europeu, a seleção das paisagens eminentemente
“culturais”, de excelência, e o uso de ferramentas operativas limitadas.
Nem todas as paisagens, mas apenas as de maior interesse cultural, são consideradas. Apesar de ser uma proposta interessante e propor uma gestão público – privado, e orientado à gestão operativa, realmente não oferece capacidade real de integrar essas iniciativas com os instrumentos de planejamento urbano nem com as políticas públicas, leis e regulamentos
que atuam acima do território” (5)

Na medida em que muitas cidades passam a trocar rodovias por parques, (6) e parques são criados sobre lixões, como o Parque Midron em Jaffa-Tel Aviv, Israel, a urgência da NATUREZA na cidade é fundamento para a sanidade coletiva. (7)

“O arquiteto paisagista paulista Benedito Abbud afirma que praças e parques convidam as pessoas ao convívio social, lazer e contemplação da paisagem, em um momento especial de usufruto e relaxamento”. (8)

A surpresa de encontrar laranjeiras, limoeiros, romãs, alecrim, sálvia, maracujá e árvores frondosas com mais de 50 anos, pelas ruas de Tel Aviv,me devolveu a conexão com a Bauhaus, que eu havia estudado e me apaixonado na Faculdade de Arquitetura, 1976. (9)

A cidade foi concebida por arquitetos provindos da BauHaus alemã, sonhando um espaço de relacionamento numa cidade jardim, nos anos 30. Os prédios são blocos parecidos, simples, de materiais populares, e tem espaços entre eles, onde há vegetação. (10)

Hoje as árvores refrescam o calor do verão mediterrâneo, quente e seco. Grandes alamedas, como a Sderot Chen, próxima à Prefeitura, e onde está o Centro Cultural Brasileiro, ligado à Embaixada, tem um belo bosque urbano usado pelas pessoas todos os dias.

O povo israeli tem paixão pela rua e pela arborização, ama e vive suas pracinhas, praças, parques.


A cultura da jardinagem e a presença de fontes em Israel podem ter origem na época da Al- Andaluz, o que conhecemos por Espanha Islâmica, na península ibérica, banhada pelo Mediterrâneo, quando judeus, muçulmanos e cristãos viveram em período de relacionamento criativo entre os sécs. VIII e XIV.

A cultura de aproximar diferenças e dar soluções positivas coletivas nesse período muçulmano gerou uma paixão por cultura, arquitetura, artes,
construindo bibliotecas, jardins com agricultura, utilizando as águas para
refrescar o ambiente e como elemento de introspecção religiosa.

 Maria Rosa Menescal. em tese apresentada no livro “Ornament of the World, How Muslims, Jews, and Christians Created a Culture of Tolerance in Medieval Spain” conta um período muito profícuo da história, bastante desconhecido. (11)

Os três jardins mais antigos da Europa e que ainda se conservam são do tempo árabe-andaluz: Alhambra, Generalife e o Alcazar de Cordoba.

Objetivos:

1. Popularizar o conceito e práticas de PAISAGISMO ALIMENTAR, como CULTURA AMBIENTAL.

2. Mapear a Rede de Experiências similares

3. Envolver e planejar trocas de informações e ações para a criação

de “Territórios de Paisagismo Alimentar”, em coletivos por adesão.

4. Inserir os “Territórios de Paisagismo Alimentar” nas politicas públicas de urbanismo, alimentação e saúde coletiva.



Métodos de Ação:
- Revisar bibliografia com temas similares que fortaleçam a teoria e pratica do Paisagismo Alimentar
- Articular projetos similares das faculdades da UFRGS
- Estudar CASOS de experiências que possam aderir a um processo comunitário de Paisagismo Alimentar:
1. Bairro Universitário Caxias do Sul, desvendando um eco-bairro: Quintais dos vizinhos, conquista cidadã de APPs urbanas- Parque dos Pinheiros, Reserva na Escola Est. Abramo Randon, Bosque do SAMAE (Secretaria Municipal de Águas e Esgoto). A herança de José Zugno, eng. agrônomo falecido, na arborização com frutíferas do bairro. (12)
2.  Os LIAUS-UFRGS e SMED-POA - Laboratórios de Inteligência do Ambiente Urbano- estratégia adotada na Política de Educação Ambiental da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre (RME), que traz um novo olhar para a cidade no processo de aprendizagem.  “O LIAU produz saberes a partir do local revelando a memória da paisagem das pessoas que habitam o bairro no qual a escola está inserida, propiciando um diálogo respeitoso e frutífero entre os saberes escolares e os da comunidade local.” (13). E os Viveiros Comunitários da Biologia-UFRGS.

3 - PAC Arroio Kruse – São Leopoldo- RS-BR
  A experiência bem sucedida no PAC-Arroio Kruse: a mudança da comunidade ribeirinha ao Arroio Kruse, em situação de alagamentos constantes, para novo assentamento.
 A mudança foi gerida em planejamento participativo entre a municipalidade, os educadores populares do CAMP e grupos dos moradores da beira do Arroio. (14)

4. Pesquisar Coletivos de Permacultura e Agrofloresta no Brasil–
InGá- Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais.
Instituto Arca Verde – São Francisco de Paula
IPEC – Inst. de Ecovilas do Cerrado- Pirenopolis e IPEP-Bagé-RS
Centro Ecológico de Ipê e Antonio Prado (30 anos)
Rede de Agroecologia- Centro UnB Cerrado- Alto Paraíso de Goiás (15)
Sítio da Amizade- Viamao - Sergio Prates e Marco Antonio Krug
IBC - Instituto Bioregional do Cerrado- Thomas Enlazador.

5. Outras experiências fora do Brasil para pesquisa e partilhamento de práticas:
5.1 - A politica de jardinagem em San Francisco, em inglês “gardening”, palavra que se refere ao plantio integrado de jardim com flores +horta + frutas + condimentos + chás. (16)

5.2 – A motivação, a gestão, e resultados do Movimento “Incredible Edible” (incríveis comestíveis), em Todmorden, Grã-Bretanha, cidade com 17 000 habitantes onde todos os espaços estão sendo plantados com alimentos. (17)
Pam Warhurst, liderança do Incredible Edible, pergunta: “O que uma comunidade deve fazer com sua terra sem uso?”.
Plantar comida é claro!
 Com energia e humor, Pam Warhurst conta no TEDSalon a história de como ela e uma crescente equipe de voluntários se juntaram para transformar vários terrenos sem uso em jardins comunitários de vegetais, e assim mudar a narrativa sobre comida na sua comunidade. (18)

5.3- Movimento GreenBelt no Quenia, fundado em 1977 por  Wangari Maathai- Premio Nobel da Paz 2004
Maathai fundou o Green Belt Movement, uma organização não governamental ambiental concentrada em plantação de árvores, conservação ambiental e direitos das mulheres.
Em 1986, ela foi premiada o Right Livelihood Award, e em 2004, se tornou a primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel por sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, à democracia e à paz.
Maathai foi eleita membro do Parlamento queniano e era ministra dos recursos ambientais e naturais no governo do Presidente Mwai Kibaki de 2003 – 2005 (19)
5.4 - Bauhaus TEL AVIV cidade verde- práticas coletivas. (20)


CONCLUSÃO

“Semear, germinar, enraizar, florescer, frutificar, saborear.....
Amar, conceber, gestar, nutrir, criar.
Ser entre SERES,
Ente entre entes! AmbiENTE!
Cósmico Mineral Vegetal Animal Humano!!!!”
(Poesia de ZédosRios) (21)

O Sec. XXI vai responder ao paradigma da Cidade Ambiental em gestão coletiva.
Muitos coletivos já estão co-criando novos espaços e perspectivas, plantando nas cidades.
É o conhecimentos desses movimentos, o partilhamento das experiências e a expansão das ideias, das práticas e dessas tecnologias sociais que baliza este estudo de mestrado: “Paisagismo alimentar, a contribuição de uma nutricionista à Cultura Ambiental das cidades no sex XXI”.
Um novo viver e conviver, em que as relações vão se tornando saudáveis pela efetiva reconexão entre as pessoas que participam da experiência de gerir e embelezar seus espaços de vida.
Onde o saber fica evidente nos cultivares de cada um.
A antevisão de uma cultura ambiental em movimento.
Um movimento social!  Uma onda “viral”!

Bibliografia e citações na internet
1. Neme, Fernando José Passarelli, 1ª Edição São Paulo 2012.
https://pramelhorambiental.files.wordpress.com/2013/11/paisagismo-alimentar-e-book1.pdf
2. Claudia Lulkin em Entrevista ao COEP – Fome Zero- 2010 sobre a experiência dos “enCanterinhos” no Projeto PAC-Arroio Kruse, São Leopoldo, RS/2010, junto com Mateus Ray do InGá e João Werlang, do CAMP.
http://www.mobilizadores.org.br/entrevistas/paisagismo-alimentar-alia-jardinagem-a-alimentacao-saudavel/
3. Projeto Pró-Frutas Nativas de Porto Alegre, SMAM- Fundo Pró-Defesa do Meio-Ambiente, InGá- Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais,
 http://frutaspoa.inga.org.br/
4- A881 ATLAS Ambiental de Porto Alegre, 3ª. Ed. rev /coordenado por Rualdo Menegat, Maria Luisa Porto, Clovis Carlos Carraro e Luís Alberto Dávila  Fernandes ´Porto Alegre : Ed. Universidade/UFRGS, 2OO6. 256 P. Il. CD-Rom

5- Observatório da Diversidade Cultural
http://observatoriodadiversidade.org.br/site/o-papel-da-paisagem-no-desenvolvimento-sustentavel/

6. Constanza Martínez Gaete. "seis cidades que trocaram suas rodovias por parques urbanos" 25 Abr. 2014. ArchDaily Brasil.
http://www.archdaily.com.br/br/601277/6-cidades-que-trocaram-suas-rodovias-por-parques-urbanos


7. Sobre o Parque Midron em Jaffa-Tel Aviv-Israel:
 http://www.telavivfoundation.org/us/project/Details/673

8. Benedito Abbud na Expo Arquitetura Sustentável, novembro 2015, São Paulo:
http://www.segs.com.br/demais/61033-paisagismo-urbano-e-tema-da-palestra-de-benedito-abbud-na-expo-arquitetura-sustentavel-2015.html

9. Sobre a Escola de Arquitetura BAUHAUS:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bauhaus

10. Tel Aviv- BAUHAUS- Cidade Verde!
 http://claudialulkin.blogspot.com.br/2015/09/bauhaus-tel-aviv-cidade-verde.html

11.  Menocal, Maria Rosa. Ornament of the World: How Muslims, Jews, and Christians Created a Culture of Tolerance in Medieval Spain, ISBN-13: 978-0316566889.
http://bridgingcultures.neh.gov/muslimjourneys/items/show/37

12. Sobre José Zugno, engenheiro agrônomo de Caxias do Sul, no blog do Prof. Armindo Trevisan, ex-professor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS entre 1973 a 1986.
http://armindotrevisan.blogspot.com.br/2012/08/o-agronomo-que-promoveu-vida-agricola.html

13. Laboratórios de Inteligência do Ambiente Urbano – LIAUs:
 “O conhecimento do lugar fazendo a diferença na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre/RS”
Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças - Espaço de Socialização de Coletivos – ENG 2010 – Porto Alegre.
Adriana Soletti; Ana Elisa S. Fontoura; Andreia Osório; Cleonice de Carvalho Silva; Cynthia Tarrago Carvalho; Elvio Vinicius Guterres Machado; Helena Beatriz Moreno Velazquez; Loreci Zancanaro; Rosa Maris Rosado; Rualdo Menegat; Susane Hübner Alves e Teresinha Sá Oliveira
rosadomar.geo@gmail. Seção Porto Alegre

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14 Cruz, Mauri José Vieira. “REFLETINDO SOBRE O PAC ARROIO KRUSE: Uma experiência exitosa”.
http://www.idhes.org.br/biblio/artigos/pol_publicas/CRUZ,%20Mauri%20Jos%C3%A9%20Vieira_PAC%20Arroio%20Kruse_Reflex%C3%B5es%20Metodol%C3%B3gicas.pdf
15.  Departamento de Parques e Recreação de San Francisco e o projeto dos jardins comunitários:
http://sfrecpark.org/park-improvements/urban-agriculture-program-citywide/community-gardens-program/

16. Pam Warhurst e o Movimento “Incredible Edible” em Todmorden-Grã Bretanha
http://www.ted.com/talks/pam_warhurst_how_we_can_eat_our_landscapes?language=pt-br

18. TED Pam Warhust:
https://www.ted.com/speakers/pam_warhurst
19. Wangari Maathai e o Greenbelt Movement:
http://www.greenbeltmovement.org/
20. op cit:
 http://claudialulkin.blogspot.com.br/2015/09/bauhaus-tel-aviv-cidade-verde.html
21. Luiz, José de Oliveira. Memoria de Gari. 1976, 1979 e
Cuca Fresca & Memoria de Gari 2013, Eds. do autor.